“Vila Nova de Famalicão, 11 de Junho de 2008
Ontem de manhã, vindo da cidade do Porto, onde se deslocara para tratar de assuntos relacionados com a publicação do seu próximo romance, chegou a Vila Nova, acompanhado da Senhora D. Ana Plácido, o eminente escritor Camilo Castelo Branco.
Apresentando-se menos indisposto e mais cordial do que é hábito, o novelista foi recebido na estação do caminho-de-ferro pelo amigo António Vicente, proprietário da Quinta e Mosteiro de Landim, e por muitas outras pessoas gradas deste concelho, bem como pelo asno bacharel que o escritor mandou comprar há tempos a Neves e Melo no campo de Coimbra, onde permanece ainda a raça do burro espirituoso e meio académico criado entre a Mealhada e os Fornos.
Porque se recusasse a montá-lo, o novelista deslocou-se a pé até à sua residência, passeando a franzina elegância pelas avenidas da vila e pelos caminhos campestres, já não de macadame, que de Antas levam até Seide. A ordem processional da jubilosa caravana era a seguinte: na frente, num andar mesurado, grave, ponderoso e solene, ia o ilustre bacharel já referido, e, a alguns passos de distância, Camilo, rodeado dos seus amigos e admiradores. As senhoras, venturosas, a mais não poder, desenferrujavam as línguas, enquanto os cavalheiros, de olho na crise, falavam dos direitos do cidadão, do modo de enganar o fisco e da maneira de enriquecerem.
No trajecto, o Senhor Camilo não cerrou os ouvidos à versalhada jocosa dos cantadores ao desafio na alameda D. Maria II, nem se negou a assistir, às suas portas, e sob os auspícios de S. Bartolomeu, a práticas exorcistas numa menina que fora visitada pelos espíritos infernais. Houve ainda tempo para o escritor cumprimentar o seu amigo José do Telhado, companheiro e guarda-costas das cacetadas dos esbirros de Pinheiro Alves nos cárceres da Relação do Porto.
Chegados ao quintalejo do Centro de Estudos recentemente criado em sua honra, junto à sua velha casa, em Seide, abancaram os participantes à sombra das macieiras, em cujos troncos as matronas penduraram as mantilhas cuidadosamente dobradas pelo festo, e eles as casacas com igual esmero.
Antes de o romancista se retirar, ofertou, por sorteio, recordações camilianas e algumas canastras de produtos PRIMORosos, agradecendo à Câmara Municipal, à Junta de Freguesia local, à Grucamo, à Grutaca, à Milho d’Oiro, à Didáxis de Riba d’Ave e a todos os agenciadores desta funçanata as atenções com que se dignaram honrá-lo em dia tão festivo e soalheiro.
Anastácio das Lombrigas
Correspondente de “O Nacional”, em Vila Nova de Famalicão”
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