O Centro de Formação da Escola Júlio Brandão de Vila Nova de Famalicão, em boa hora, promoveu uma acção de formação (25 horas) destinada a professores de línguas do ensino básico e secundário sobre a obra de Camilo Castelo Branco, que, a despeito de se ver, lamentavelmente, arredado dos programas escolares, continua a ser tido como um autor fundamental, sobretudo para a formação literária e linguística dos professores dessa área. E como visitar a obra de Camilo implica visitar a vida (basta pensar no conto “Aquela Casa Triste”, em que, a dada altura, o autor abre um parêntesis na acção para recordar a visita de Castilho a Ceide), o grupo de formação, constituído por vinte e um elementos, não podia deixar de visitar aquele que, além da obra, permanece como o maior testemunho da vida do romancista – a Casa-Museu de Camilo, em São Miguel de Ceide, recentemente galardoada com o prémio de melhor museu nacional em 2006. Embora já todos a conhecessem, o contexto da formação deu à visita um renovado interesse suplementar, sobretudo com a competente e agradável colaboração do Sr. Reinaldo Ferreira e com a leitura de alguns textos, que fazem reviver com maior intensidade os recantos e os objectos da casa.
Logo à entrada, o velho pilar, a “pedra” comemorativa da referida visita da gente de letras ao primeiro romancista português, parece perder o frio granítico, quando são lidas as páginas de “Aquela Casa Triste”. A “acácia do Jorge” parece de novo “inflorar”, espalhando sombras, quando lemos os versos do pai dedicados ao filho louco. O relógio de caixa alta, na sala principal, torna-se mais real ao relermos a célebre descrição a abrir o Eusébio Macário. A cozinha anima-se da faina doméstica, quando lemos a carta de Camilo a Manuel Negrão: «Cá estão os ricos lagumes. Ana Plácido, logo que elas chegaram, as batatas, mandou arranjar para ela uma porção, e deita bródio esta noite. Aconselhei-lhe que os acompanhasse com o azeite de Mosteirô». E no mítico escritório, vemos Camilo, à banca de trabalho, rodeado dos seus fantasmas, segundo o célebre texto das Noites de Insónia: «Venho então sentar-me a esta banca, dou formas dramáticas ao diálogo dos meus fantasmas, e convenço-me de que pertenço bem aos vivos, ao meu século, ao balcão social, à indústria, mandando vender a Ernesto Chardron as minhas insónias.»
Já no Centro de Estudos Camilianos, esta jornada camiliana do dia 27 de Junho ficou ainda mais enriquecida com o visionamento do documentário “Camilo e Outras Vozes”. Agradecemos ao Centro de Estudos Camilianos e, em particular, ao Dr. José Manuel Oliveira, toda a colaboração nesta actividade, que certamente constituirá mais um estímulo para manter vivo o interesse por Camilo, e para transmitir às gerações mais novas o tesouro literário e linguístico da sua obra.
João Paulo Braga
Visita à Casa de Camilo
Setembro 5, 2008 por casadecamilo
Parabéns pelo interesse pela literatura e por Camilo Castelo Branco no âmbito da formação de professores! Sou formadora de Português e há uns anos atrás, através do centro de formação de Felgueiras, ministrei uma acção de formação intitulada «A leitura: trabalho e prazer – Análise de “A fada Oriana” e “Amor de perdição”»…
A modalidade «seminário» nem sempre é a mais apropriada. Se optarem por componentes mais práticas devem escolher a modalidade «oficina» que, apesar de mais trabalhosa, se torna mais enriquecedora pois permite a participação activa dos formandos. Os pedidos dos formandos e das escolas são muito importantes para a concretização e para a oferta de cada centro.
Por outro lado, a divulgação do trabalho (publicação) e o processo de continuidade nem sempre se verificam. A sua mensagem contribui, em muito, para o debate… Parabéns!