“ PARTO A SORRIR”
Vila Nova de Famalicão.
Uma seta, uma indicação
Com estilo
A indicar a Casa de Camilo,
Centro de Estudos, Museu,
Que mereceu
Ser distinguida com,
Como sabeis,
O Prémio APOM
O melhor Museu Português 2006.
E, logo a seguir, sobre fundo branco,
A enorme figura,
Escura,
De Camilo Castelo Branco.
Depois, um notório
Auditório
Para onde fomos, velozes
Ouvir um extraordinário
Documentário:
“ Camilo e outras vozes”.
Se, para o Padre Simões,
Por várias razões,
Camilo tem uma vida
Vivida
Em dois labirintos,
Distintos,
Segundo o narrador,
Que é um primor,
Ao aproximar da casa ouvimos,
Sentimos,
Não um, mas vários labirintos
De vozes
Que, velozes,
Nos vão dando informação:
-Primeiro, a de Camilo, pois então!
Depois, a da família e dos amigos
E, também, dos inimigos,
De personagens, daquelas
Dos romances e novelas.
Vozes, também, quem diria
Do Teatro e Poesia
E ainda outras, que tais,
Das polémicas em Jornais,
Todas elas a dizer,
Sem nuances,
De forma bem realçada,
Que Camilo escreveu romances
De encantar
E de “fazer chorar
As pedras da calçada”.
Vozes a advertir:
-Dois labirintos, desde a entrada,
Em que o visitante ao sair,
Pode vir pela porta errada!
Vozes a dizer
Em verso e em prosa,
Para a gente saber,
Que Camilo nasceu na Rua da Rosa
E, se não sabeis,
Em Março, a dezasseis,
De mil oitocentos e vinte e cinco.
Confesso que não brinco
Se vos disser
Que, depois, houve tanto para ouvir
Sentir
E ver
Que se torna impossível descrever…
A poética narração
Da sua paixão,
Da sua esperança,
Quando diz, com amor:
“ Amei dos campos a mais bela flor”,
Referindo-se a Joaquina de França,
Ou quando fala
Dizendo: “faz orgulho amá-la!”,
Ou “é uma alma de ferro esta mulher”
Quando se refere
Ao que passou
Com Ana Augusta, que tanto amou.
E as formas brincalhonas
Como se refere às “primeiras donas”,
Acabando por afirmar
Que foram ambas, depois de finar,
No coro dos anjos desafinar?
E a curiosa maneira de dizer
“ A ideia filosófica em uma mulher”?
De referir, porque não,
A sua carta a Negrão
Sobre Coimbra, “terra de encantos”,
Da sua vida
Vivida
Onde só o homem da vida
Conhece os cantos
E que deixará com saudades
Pelas horas pacatas
Passadas com sumidades
Mais ou menos caricatas.
Depois, um sem número de emoções
Num mundo de recordações:
A cartola que usou,
A secretária onde estudou,
Os tinteiros, onde a pena molhou.
O crucifixo,
Fixo
Na parede, aos pés da cama,
É a chama
Que o iluminou
E o relógio, lendário,
Mostra o horário
Que o orientou.
Mas o que mais nos marcou,
Foi ver a cadeira,
De palhinha e madeira,
Onde se suicidou…
Estes labirintos paralelos,
Alelos
De duas épocas duma vida,
Mostram aquilo
Que Camilo
Foi na vida:
A Arte, a História
A Memória
E a Perfeição,
De mãos dadas, fazem de eleição,
Em Vila Nova de Famalicão,
Um Museu excepcional
Dos melhores de Portugal.
Depois de tanta oferta,
Apesar do labirinto
Pressinto,
Que saímos pela porta certa.
Já com saudade, ao partir,
Com desejo de voltar,
Entrámos, “Parto a sorrir”
Saímos, “ Parto a chorar”!
Polybio Serra e Silva
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