“Estudava eu Química na Academia do Porto.
De dois discípulos somente me recordo bem. Um era o melhor estudante; o outro, último da lista, seria o pior do curso, se eu lá não estivesse.
[…] Fugíamos da aula de cócoras, quando o sol de Deus nos estava incitando à rebelião. Com que tristeza eu via o sol e invejava a minha vida lá das serras donde viera estudar o sesquióxido de ferro e o bicarbonato de soda naquelas salas frias do convento da Graça.
[…] Soou a hora do acto. Já de antemão os condiscípulos me davam os pêsames: dizia-se que eu, além de ser um parvo quimicamente falando, tinha quarenta e oito faltas, afora vinte e duas abonadas, sete negas e cinco fugidas.
[…] Que acto eu fiz! Desenruguei a fronte do lente, enchi de júbilo os arguentes, espantei os condiscípulos e fui aprovado nemine discrepante” (*).
(In Cavar em ruínas)
(*) “Sem ninguém discrepar”. Nas academias, o estudante obtém aprovação plena, nemine discrepante, quando alcança a aprovação de todos os membros do júri; diz-se aprovado simpliciter, simplesmente, quando um dos membros deita um R, que os estudantes dizem ser a inicial de “Raposa”.
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