Reler as Novelas do Minho, de Camilo, é uma boa hipótese para tempos de crise. Ali está Portugal, o que prezamos e o que nos enjoa. Camilo, que foi tratado como «o último miguelista de Portugal», dá a volta à província desenhando a galeria dos seus personagens: brasileiros («os de profissão» e «os do Brasil», nunca enganando o ressentimento contra Pinheiro Alves, a quem ficou com o relógio); herdeiros pobres que morrem nas serras, sob a neve e a geada; mulheres de dedos nodosos (um dos primeiros retratos de amor entre mulheres, na nossa literatura, está em «O Cego de Landim») e de peito arfante, melodioso; bacharéis do século dos bacharéis, políticos vingativos e de digestões difíceis; gente corada, apopléctica, mandibulando bacalhaus de cebolada; românticos perdidos; tuberculosos das secretarias, compondo maus versos e acabando na câmara de deputados — está tudo lá, está tudo lá, como está n’ A Brasileira de Prazins, a obra-prima. Para os fanáticos de Cormac McCarthy, lembrem-se que a expressão original é de Camilo. Numa das novelas, é o próprio que se lamenta: «Este país não é para ninguém.»
Francisco José Viegas
«Este país não é para ninguém»: crónica de Francisco José Viegas
Fevereiro 16, 2010 por casadecamilo
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