Manoel d’ Oliveira é o próximo convidado da Sessão “Um Livro, Um Filme”, actividade promovida pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, através da Casa de Camilo, e que decorrerá no auditório do Centro de Estudos, em S. Miguel de Seide, no dia 24 de Setembro de 2010, pelas 21h30.
O cineasta escolheu para ponto de partida dos seus comentários a película “O Dia do Desespero”, por si realizado e integralmente rodado na Casa de Camilo – Museu, moradia onde o romancista passou grande parte da sua via e pôs termo à vida a 1 de Junho de 1890.
Manoel d’ Oliveira tem a idade do cinema. Contando quase cinquenta filmes em pouco menos de oitenta anos de trabalho, tendo acompanhado activamente as principais mutações técnicas e estéticas da criação cinematográfica (a passagem do mudo ao sonoro, do preto e branco à cor ou do registo fotográfico ao vídeo), o percurso de Manoel d’ Oliveira pode, na sua singularidade, ser visto como uma síntese da história do cinema. De Douro, Faina Fluvial (1931), o primeiro filme do autor, a Singularidades de uma Rapariga Loura (2009), sua mais recente realização, a obra de Manoel d’ Oliveira concilia alguns dos principais antagonismos que marcaram as querelas cinematográficas ao longo de todo o século XX. Fazendo confluir duas concepções de vanguarda, nela se confrontam uma primeira modernidade, em que a «sétima arte» pretende fundar uma linguagem específica, demarcando-se das outras disciplinas artísticas para se definir como uma «arte pura», e uma segunda modernidade, em que o cinema, deixando de procurar a emancipação na ruptura e reconhecendo a especificidade da sua impureza, se propõe como uma «síntese de todas as artes».
Estas duas orientações efectuam-se, em Oliveira, numa consolidação das relações do cinema com a literatura e com o teatro, mas também com a pintura e com a música, aprofundando as correspondências através da transgressão de categorias, como o documentário e a ficção, da hibridação de modelos narrativos e da recusa tanto do realismo como do naturalismo, em vista de uma objectividade da representação cinematográfica.
(Texto de António Preto)
“O Dia do Desespero” conta a história verídica dos últimos anos do eminente escritor português do século XIX, Camilo Castelo Branco.
Esta evocação baseia-se, fundamentalmente, em algumas das suas cartas. Os textos são, poderemos dizê-lo, o fio condutor da evolução dramática de um homem viril, polémico e romântico que contrastava com o espírito funesto, instável e irresignado.
Camilo afunda-se sem remissão num conflito íntimo, ou melhor, interno, “um drama em gente”, como diria Fernando Pessoa.
Havia de ser a cegueira o impulsor para o Acto final da sua vida. Acto final da sua vida? E o Além-Túmulo?
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