Detidos por livre e espontânea vontade na cadeia, e envoltos de alguns capítulos das “Memórias do Cárcere”, quando se comemora os 150 anos da sua publicação, a comunidade de leitores pretende assim, no local onde foram escritas estas histórias, partilhar conhecimentos e sentimentos de um modo mais autêntico e verdadeiro, assim como sentiu e viveu Camilo Castelo Branco.
«Desci um dia às enxovias da Relação. Demorei-me no antro, onde morava o carrasco, aposentadoria devoluta, desde que o último morreu, em 1833, às mãos do povo.
Nem todos os carrascos ali viviam agrilhoados como tigres necessários à vindicta da humanidade. Um velho executor de alta justiça, adido ao tribunal da Relação, quando a decrepitude lhe desnervou as pernas, tinha licença de sair a aquecer ao sol de Deus as mãos com que tinha estrangulado dúzias de gargantas de filhos de Deus. Os rapazes assobiavam-no nas ruas, e ele dizia com sorriso de bondade: Nosso Senhor vos guarde das minhas unhas.»
(In Memórias do Cárcere)
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