Ill.mo e Ex.mo Sr.
Sou o cadáver representante de um nome que teve alguma reputação gloriosa n’este país durante 40 anos de trabalho.
Chamo-me Camilo Castelo Branco e estou cego.
Ainda há quinze dias podia ver cingir-se a um dedo das minhas mãos uma flâmula escarlate. Depois, sobreveio uma forte oftalmia que me alastrou as córneas de tarjas sanguíneas.
Há poucas horas ouvi ler no Comercio do Porto o nome de V. Ex.a. Senti na alma uma extraordinária vibração de esperança.
Poderá V. Ex.a salvar-me? Se eu pudesse, se uma quase paralisia me não tivesse acorrentado a uma cadeira, iria procura-lo. Não posso.
Mas poderá V. Ex.a dizer-me o que devo esperar d’esta irrupção sanguínea n’uns olhos em que não havia até há pouco uma gota de sangue?
Digne-se V. Ex.a perdoar á infelicidade estas perguntas feitas tão sem cerimónia por um homem que não conhece.
Camilo Castelo Branco
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