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Deus
“Deus não falta aos infelizes sem culpa, nem mesmo aos culpados…” (114)
Fen. do amor (encontro, Adão, Eva)
“O leitor já sabe por todos os romances, por todos os dramas, e por todos os actos da vida real, semelhantes, muito ou pouco, a este, o que Teodora fez. Um ah!, ou dous, é o nariz-de-cera para todas as surpresas, fabricado desde Homero, ou mais de longe. Adão, quando viu Eva, devia dizer: Ah! A Eva, quando viu a serpente, se não fugiu, eu vou jurar, sem menoscabo do historiador Moisés, que mais ou menos nervosa, exclamou: Ah! A interjeição é coeva do homem, que nasceu cheio de espantos.
Espanto, porém, igual ao da morgada, se o houve, foi o meu, quando Afonso me disse que Teodora não expediu do seio interjeição nenhuma, nem ah! sequer.
– Pois quê?! – perguntei eu com a respiração abafada. – Que disse ela?!
– Levantou as mãos, ajuntou-as sobre o seio, postas em oração; depois, caiu em joelhos, ia cair, quando eu, ajoelhado também, a recebi, a desfalecer.” (118)
Literatura (naturalismo, metaliteratura)
“(…) se tu crês que um homem, acostumado a fazer romances, é uma espécie de naturalista (…)” (118-119)
Dimensão antropológica (metaliteratura)
“Se, como diz o Dante, nada há aí mais triste que recordar na miséria os tempos felizes, e pelos menos nauseabundo recordar em tempos felizes vergonhosas misérias. Todavia, como já agora, inexorável romancista, me não dispensam o remate deste longo prólogo do capítulo final do meu livro – livro que eu chamaria Amor de Salvação –, concluirei a história e irei depois purificar os meus lábios no rosto de meus filhos.” (119)
Fen. do amor (amor maternal, Afonso e Palmira)
“- Não basta o amor da mulher amante para consolar as saudades de uma mãe. Eu também a tinha, quando te amava, e abriguei-me no teu coração. Que diferença…” (129)
Fen. do amor (Afonso e Mafalda)
“«Vivamos como amantes que dispensam serem admirados para serem venturosos.»”
(…)
Já me chamas tua amiga. A mulher que ama, quando lhe dão tal nome, sabe que é cousa de pouca monta para quem lho dá.” (133)
Oração
“A oração, esse divino desabafo de enormes aflições.” (148)
Fen. do amor (paixões)
“É preciso que a vida sensitiva se amorteça antes da actividade moral para que as paixões malogradas vinguem o total quebranto do homem.” (154)
Padres
“Padre Joaquim era um modelo de padres, capelão da casa, havia trinta e cinco anos; padre que se me ia fugindo deste romance por um cabelinho: o que seria novidade nos meus livros. Quando eu puder arquitectar uma novela sem padre, hei-de chamar-me romancista puxado de imaginação. O mesmo dos escritores floridos, Almeida Garrett, segundo disse e provou, tinha o vezo dos frades. Ele, e eu, cá muito no couce processional dos seus discípulos, havemos de fazer amar os frades e os padres, pelo menos os padres capelães bem procedidos e venerandos como padre Joaquim, capelão da cada de Fonte Boa.” (163)
Fen. do amor (casamento)
“Dizem que a convivência de anos entre esposos, que muito se amam, traz consigo de seu natural uns silêncios significativos do esfriamento das almas.” (178)
Deus
“Sabes tu o que é ter um Deus que nos escuta, que nos reprova, que nos louva, que nos povoa o espaço onde a alma insaciável do homem encontra um vazio horrendo, uma respiração aflitiva!…” (181)
Amadeu Gonçalves
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