Três barrigas
«… Deve estar entre cinquenta a cinquenta e cinco anos, estatura menos de meã, com três barrigas, das quais a primeira, começando pela parte mais nobre do sujeito, principia onde o vulgar da gente tem os joelhos, e, depois, duma arremetida adiposa, retrai-se na linha imaginária da cintura, e estreita-se em forma de cabeça. A segunda barriga pega da primeira, ondeia com três ordens de refegos por sobre as falsas costelas, ladeia túmida e retesada como os flanco dum odre posto de través, e vai perder-se nos sovacos, mandando para as costas uma corcunda da sua mesma natureza. A terceira barriga pendura-se da face interna do queixo inferior, amplia-se flácida e lustrosa como um bucho mal cheio de vitela, e assenta sobre a segunda, no ponto hipotético do esterno. A parte anatómica deste bosquejo toda ela se libra em conjunturas. O autor não assevera senão a existência de barrigas.»
(In Anos de prosa)
Deixe uma Resposta