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Posts Tagged ‘1 de junho de 1890’


«Numa tarde do princípio de junho desse angustiado e revolto ano de 1890, tão cortado de sobressaltos, agitações e desgraças, no calmo e verdejante retiro aldeão da sua casa de S. Miguel de Ceide, e nesse gabinete de trabalho em que o cercavam os seus adorados livros, companheiros fiéis de toda uma vida de intensa actividade literária. Camilo Castelo Branco, convencido do irremediável infortúnio que condenava os seus derradeiros dias à treva perpétua, abria por sua própria mão as portas de bronze da Morte, metendo na cabeça uma bala de revólver.

 Mas essa bala fatal, que cortava o fio da existência, já tão gasto e adelgaçado pelo sofrimento, rompia também, de vez, os últimos filamentos da nossa tradição literária. Porque a verdade é que, com esse glorioso vulto de escritor, se extingue a linhagem clássica e romântica, e com ele morre a velha língua portuguesa. É um ciclo que se encerra nesse trágico epílogo duma grande vida, laboriosa e fecunda. O seu mausoléu não é apenas a jazida fúnebre dum literato ilustre: é a sepultura de toda uma literatura morta.»

Luís de Magalhães

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«Chega a morte! Vejo-a, sinto-a.

A luz dos olhos se apaga…

Vem, meu filho, abraça e beija

De teu filho a face fria.

Limpa-lhe o rosto orvalhado,

Não de pranto, que eu não choro,

Mas de suor da agonia.

Não me fujas, filho; imprime

Na tua alma esta imagem.

Daqui a pouco à voragem

Resvalou teu pobre pai.

Vem também, santa das dores,

Receber o extremo ai!

Não me vás levar flores

À sepultura, não vás.

Leva-me os filhos felizes,

Leva-os contigo e verás

Que me aquece a luz da vida

Na sepultura esquecida,

Onde enfim hei de ter paz!»

               Camilo Castelo Branco

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https://www.youtube.com/watch?v=A5hNQsBpBvk

 

 

 

 

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«Há muita gente que se diverte comigo. É bem feito, porque eu também me divirto com muita gente.»
(In Correspondência)

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Ill.mo e Ex.mo Sr.

Sou o cadáver representante de um nome que teve alguma reputação gloriosa n’este país durante 40 anos de trabalho.
Chamo-me Camilo Castelo Branco e estou cego.
Ainda há quinze dias podia ver cingir-se a um dedo das minhas mãos uma flâmula escarlate. Depois, sobreveio uma forte oftalmia que me alastrou as córneas de tarjas sanguíneas.
Há poucas horas ouvi ler no Comercio do Porto o nome de V. Ex.a. Senti na alma uma extraordinária vibração de esperança.
Poderá V. Ex.a salvar-me? Se eu pudesse, se uma quase paralisia me não tivesse acorrentado a uma cadeira, iria procura-lo. Não posso.
Mas poderá V. Ex.a dizer-me o que devo esperar d’esta irrupção sanguínea n’uns olhos em que não havia até há pouco uma gota de sangue?
Digne-se V. Ex.a perdoar á infelicidade estas perguntas feitas tão sem cerimónia por um homem que não conhece.

Camilo Castelo Branco

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«Chega a morte! Vejo-a, sinto-a.
A luz dos olhos se apaga…
Vem meu filho, abraça e beija
De teu pai a face fria
Limpa-lhe o rosto orvalhado,
Não de pranto, que eu não choro,
Mas do suor da agonia.
Não me fujas, filho; imprime
Na tua alma esta imagem.
Daqui a pouco à voragem
Resvalou teu pobre pai.
Vem também, santa das dores,
Receber o extremo ai!
Não me vás levar flores
À sepultura, não vás
Que me aquece a luz da vida
Na sepultura esquecida,
Onde enfim hei-de ter paz!»
(In O Leme)

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