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ESCRITOS CAMILIANOS SOBRE BOTICAS

Quem pensa que Boticas foi esquecida pelos grandes escritores portugueses dos séculos XIX e XX está profundamente enganado. Talvez a escassa divulgação desses textos, faça pressupor que Boticas tenha sido só descrita pelo nosso Gomes Monteiro, e mais recentemente por outros eruditos da nossa língua.

Camilo um dos mais consagrados e prolixos escritores portugueses também tem importantes escritos sobre o Concelho. Cabe divulgá-los e dar a conhecer as belas páginas escritas, com por exemplo no seu livro “Doze Casamentos Felizes” e usando do relato do sexto casamento diz:

“Uma vez, descia, ou, melhor direi, escorregava eu das Alturas de Barroso, e cismava nas santas proezas de Bartolomeu dos Mártires, tão sigela e devotadamente contados por um frade dominicano, o qual, sempre que o leio, pode tanto comigo, que, pelo muito que lhe quero, perdoo a todos seus confrades, entrando na conta o próprio Torquemada.”

Mais adiante escreve Camilo:

“…porém o que mais me assombrou a minha pecadora fraqueza foi o ter ido o Arcebispo de Braga às Alturas de Barroso! Se em Roma os cardeais soubessem o que é o Barroso; se o Espírito Santo em seus colóquios com os Padres, lhes revelasse notícias topográficas daqueles sítios. Bartolomeu dos Mártires estaria já no Florilégio, e Frei Luís de Sousa dispensar-se-ia de lastimar que os coevos dos prelados primaz das Espanhas não autenticassem milagres, sem as quais a canonização é improcedente.

Eu fiz o milagre de ir às Alturas de Barroso, não pela trilha que lá conduzia o intrépido arcebispo, mas por fraguedos e escarpas, sem mais vestígios de vida…”

“Assim pois vinha eu, de volta das Alturas de Barroso meditando no muito que devia privar com Deus aquele apostólico arcebispo, que demorara muitos dias, naquelas brenhas…”

Também no livro “Noites de Lamego” e no capítulo – “História de uma Porta” afirma: – “almocei e fui às trutas. À beira do Rio Beça, cismei muito nas almas dos Padres Domingos e Vicente, e confesso que me pus a caminho, enquanto era dia, com medo de encontrá-las ambas, ou pelo menos uma das almas.”

Já no livro volta a fazer uso do Barroso e de Boticas, desta vez, mais precisamente, a Covas do Barroso, no livro “Maria Moisés”

“…morreu em casa dos seus irmãos em Santa Maria do Covas do Barroso, repelindo o marido desde que lhe ouvira dizer: “A rapariga faz-me falta porque não tenho quem me governe a casa.”

 Boticas continua e continuará no trajecto dos “homens das letras” disso não temos dúvidas.

Leiam “Doze Casamentos Felizes” e façam o favor de serem felizes.

 Paulo Sá Machado
(In Ecos de Boticas, Março 2011)

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