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Entre 18 e 22 de Julho, a Universidade do Porto vai promover um curso de Verão dedicado a Camilo Castelo Branco. A iniciativa decorre no âmbito de um protocolo de colaboração entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e a Universidade do Porto, celebrado hoje, dia 14 de Junho, na Casa-Museu de Camilo, em S. Miguel de Seide. O documento foi assinado pelo presidente da autarquia, Armindo Costa, e pela vice-reitora da Universidade, Maria de Lurdes Fernandes.
O curso intitulado “Mistérios de Camilo” é composto por cinco sessões e irá decorrer na Casa de Camilo e na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Os temas abarcam diversas áreas da vida e obra de Camilo e serão apresentados por académicos especializados na obra camiliana, entre os quais a antiga ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima. As sessões teóricas serão complementadas com a exibição de um documentário sobre a vida do escritor, de filmes que recriam algumas das suas obras e com a visita guiada aos lugares camilianos de Braga e Porto.
A participação no curso tem o custo total de 100 euros e inclui as deslocações, material de apoio e refeições.
Para o presidente da Câmara Municipal “a colaboração do município nesta formação irá potenciar novas abordagens multidisciplinares e inovadoras no estudo da obra do escritor”, para além de contribuir para “o reforçar das relações de cooperação com várias instituições científicas e culturais, como é o caso da Universidade do Porto”.

FONTE: Câmara Municipal Vila Nova de Famalicão

 

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No âmbito das comemorações dos 200 anos do lançamento da última pedra do Templo do Bom Jesus do Monte, a Confraria do Bom Jesus do Monte abriu ao público a exposição ‘Mulheres de Camilo’, dedicada a Camilo Castelo Branco, escritor português consagrado do século XIX. A inauguração assinalou também o dia da morte do “maior novelista e romantista português do século XIX”, como refere José Carlos Peixoto, mesário da Confraria do Bom Jesus do Monte.
Albergada no Centro de Exposições Cónego Cândido Pedrosa, situado no andar superior da Casa das Estampas, a exposição reflecte também a “ligação forte que Camilo tinha com a estância do Bom Jesus”, referiu João Varanda, responsável da Confraria do Bom Jesus do Monte, recordando a narrativa camiliana intitulada ‘No Bom Jesus do Monte’.
O responsável apelou a Armindo Costa, presidente da Câmara Municipal de Famalicão, a trazer a rota camiliana ao Bom Jesus. João Varanda anunciou ainda a organização do ‘Primeiro Congresso Luso-brasileiro do Barroco’ em Outubro, bem como a assinatura de um protocolo com a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda a 24 de Julho para a realização do ‘Seminário sobre o Barroco’.
Recordando os 121 anos do falecimento de Camilo Castelo Branco, o director da Casa-Museu de Camilo Castelo Branco em S. Miguel de Seide, salientou que terá sido no Bom Jesus do Monte que Ana Plácido “cedeu aos encantos de Camilo”.
Marcando presença em 30 cidades, a exposição itinerante ‘Mulheres de Camilo’ nasceu em 1995, estreando-se nas instalações da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda. Armindo Costa, presidente da Câmara Municipal de Famalicão, realçou a importância da exposição para quem “lê, estuda, admira Camilo”, concorde ou discorde da sua vida.
Victor Sousa, vice-presidente da Câmara Municipal de Braga, frisou o estreitamento das relações dentro do ‘Quadrilátero Urbano’, programa estratégico de cooperação que esteve na génese da organização da iniciativa, procurando “enaltecer os valores da região” através de uma exposição que procura encantar o público.
D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, referiu que Camilo encontrou o “silêncio e a oportunidade de reflectir” na estância do Bom Jesus, constituindo um exemplo para a “sociedade apressada e débil” que esquece a importância do diálogo com os outros e em especial com as crianças, no Dia Mundial da Criança.
A exposição fica patente no Bom Jesus até Outubro.

Fonte: Correio do Minho, 02-06-2011

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Eu tinha dez anos quando, pela primeira vez, fui ao BOM JESUS DO MONTE. Eu, com outros romeiros, vínhamos de Vigo onde nos aproara uma tormenta no alto mar. A minha criada, muito amante da vida, fizera uma promessa ao Bom Jesus; e, no cumprimento da sua palavra, de passagem para Trás-os-Montes, convidara alguns companheiros de jornada a subirem ao alto da mata para agradecerem ao miraculoso Senhor o seu salvamento.

Eu, como disse, tinha dez anos, e estava também ajoelhado na capela onde se venera a imponente escultura. Enquanto os meus companheiros agradeciam com fervorosa unção o prazer da vida, recordo-me que cismava, muito em desarmonia com a acção de graças daquela gente. Pensava eu se me não teria sido muito mais benigno o Senhor do Monte, deixando-me resvalar ao abismo, amortaIhado em uma das suas ondas, menos amargas que as lágrimas que eu havia de derramar em naufrágios de maiores agonias. Porque eu, aos dez anos, vinha de perder meu pai quando não tinha mãe; saía do aconchego da casa paternal desfeito como um ninho espedaçado por um furacão; e ia para uma terra desconhecida enviado a parentes que nunca me tinham visto. Era por isso que eu, pensando na infelicidade da existência, cismava se Deus me seria mais benigno deixando-me ir procurar as almas de meu pai e de minha mãe.

cem anos que este Senhor crucificado umas poucas de gerações prostradas diante do seu altar – uns a agradecer, outros a suplicar. Pois, talvez no transcurso de um século, nenhuma outra criança de dez anos repetisse, diante desta sagrada imagem, as palavras de Job: Quare de vulva eduxisti me ? – «Porque me deste o nascimento?».

(In Boémia do espírito)

 

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Ao reler Camilo, vejo-o reencontrar-se com as suas memórias No Bom Jesus do Monte, divagando e reflectindo uma última vez por entre os arvoredos “em rebates de saudade”. Este livro, onde relata amizades e amores que testemunhou ou viveu nas suas diversas estadas no sagrado monte entre 1835 e 1863, no dizer do próprio escritor “Fez-se a pedaços, ou a pedaços o coração o foi encadernando nas florestas do Bom Jesus do Monte.” As suas “carvalheiras”, “o cerrado arvoredo da Mãe-d’Água”, as “salas tapetadas de relva e abobadadas de folhagem” são o cenário privilegiado daqueles episódios.
As primeiras lembranças recuam ao tempo em que o autor, criança e órfão há dois meses, vai pela primeira vez ao Santuário. Dessa visita o que “ainda indelevelmente” divisa são exactamente “as grandes árvores, as sombras escuras, os penhascos musgosos”.
Esse amor pelas árvores confessa-o logo na dedicatória ao amigo de Guimarães, em jeito de carta datada de 6 de Março de 1864. Aí, receando estar a alongar-se demasiado nas suas referências ao sucessor do majestoso carvalho que no tempo de Frei Bartolomeu dos Mártires existiu no lugar de Ruivães, justifica assim o seu entusiasmo: “Desculpe, Francisco Martins, estas delongas à conta de uma árvore. Você sabe que amor eu tenho às árvores. […] Este livro que eu lhe dedico tem muito com arvoredos.” A confirmar esse amor, formula mesmo um especial desejo: “A minha ambição é possuir uma árvore que me cubra com um pavilhão de folhas a casa de sete palmos, que hei-de comprar num cemitério […] quando o preço de um livro me der para a sepultura e para a árvore.”
Mas a verdadeira exaltação das árvores e a evocação do refrigério da sua sombra e do bálsamo da sua música, essa é feita no intróito, cujas primeiras palavras são para elas: “Estas árvores são minhas amigas há vinte e sete anos. Vim hoje aqui despedir-me delas: creio que para sempre me despeço. […] Eu já encaneci; e elas verdejam exuberantes de seiva. Faço trinta e oito anos, inclinado à sepultura; e elas têm três séculos que viver, trezentas primaveras para se vestirem de galas novas. Meus netos virão saborear-se em vossas sombras, ó carvalheiras, ó verdes pavilhões que me cobristes nas máximas tristezas e alegrias de minha vida!”
Insistindo no consolo que traz a música das árvores, diz mais adiante: “Dá Deus estas harpas místicas aos arvoredos em benefício dos ânimos conturbados, que se acolhem fugitivos a ermos onde eles cuidam que o Céu os há-de ouvir.” Essa é para ele a música verdadeiramente reparadora e divina, e é em defesa dela que condena a prática em uso na época de fazer acompanhar as cerimónias religiosas de música profana: “Acalentava a música o exasperado Saul. Bons tempos! A música de agora é irritante. Há pouco entrei no templo: o sacerdote consagrava a hóstia, e o órgão entoava a Traviata. Santo Deus! Quem quiser música de adormecer dores, e levantar a alma à sua origem, há-de pedi-la à viração e à folhagem das florestas.”
Mesmo se a melancolia dos bosques inclina à tristeza ela é referida como uma tristeza “generosa” e que desperta “salutares pensamentos”, porque é uma “tristeza que nos vem esmolada do Céu.” É entre o arvoredo que se ouvem melodias genuinamente inspiradoras e apaziguadoras e se aprende a soletrar a verdadeira vida: “São as árvores uns grandes livros abertos, onde todos deletreamos coisas que não constam da Via-Sacra,…”.
Para melhor explicar essa voz das árvores, cita versos das Contemplações de Vítor Hugo, como: Crois-tu que Dieu […] / Aurait fait à jamais sonner la forêt sombre, […] Et qu’il n’aurait rien mis dans l’éternel murmure? […] / Tout parle. Et maintenant, homme, sais-tu pourquoi / Tout parle? Écoute bien. C’est que vents, ondes, flammes, / Arbres, roseaux, rochers, tout vit! / Tout est plein d’âmes. Também aqui, o escritor não perde a oportunidade de um toque mordaz: “Se o zeloso clero das cercanias do Bom Jesus vertesse à letra o tout est plein d’âmes, e o livro, que tal afirma, não escapasse ao Index do sacro colégio, veríamos as florestas mansíssimas da montanha invadidas pelos exorcistas e pelo machado, modos sabidos de afugentar almas das árvores. O grande poeta queria dizer que as árvores têm vozes misteriosas, e os corações audição interior que as escuta, e o entendimento lucidez que as compreende.”
Porque Camilo entendeu essas vozes e colheu paz e bem-estar junto dos arvoredos do Bom Jesus do Monte, as últimas palavras do intróito são de tristeza e saudade: “Quando lá ia, voltava sempre melhor. Nunca me aconteceu outro tanto ao dobrar a última página de livro de moral. Enquanto eu soube ler nas folhinhas das árvores, ia lá: agora que o gear da desgraça e do trigésimo oitavo Inverno […] me vai oxidando a alma, que iria fazer eu lá? Já não sei ler aqueles poemas, aqueles sublimes evangelhos, que o Senhor mandou escrever ao seu máximo apóstolo: a natureza. / Se eu tivesse filhos, havia de ir ali passar com eles três meses cada ano. De madrugada, e aos primeiros assomos da noite, iríamos ao bosque da Mãe-d’Água, e ouviríamos a glória do Senhor narrada pelos Céus. E mais nada. / E os meus filhos seriam bons.”
O significado e o poder que vimos conferido às árvores e à sua música fazem-nos sentir no ar o inefável eco de uma melodia que nunca deixará de se fazer ouvir apesar do ruído do mundo. Se quisermos crer nas afirmações do escritor de que “Chorar nas matas do Bom Jesus é chorar em presença de Deus” e de que é Deus que dá “estas harpas místicas aos arvoredos em benefício dos ânimos conturbados”, teremos como certo que a harmonia da natureza prevalecerá pois, sendo a música das árvores uma dádiva divina, ela estará imune à dissonante actuação dos homens. Saibam eles preservar o templo e as florestas da sagrada montanha de modo a que seja positiva a resposta dos vindouros à questão que Camilo deixa no ar: “De hoje a trezentos anos […] Quem me diz que haverá árvores e serra por lá?!”
Helena Laranjeiro

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