«Como romancista e como poeta ele é o mais genuíno representante literário do sentimento do seu tempo e do seu lugar.
[…] Entre os condenados das letras, Camilo Castelo Branco foi dos mais desgraçados, porque nunca teve para o despreocupar do trabalho hipnótico e alucinante da gestação artística nunhuma das distracções do homem moderno, – nem a ambição embaladora da política, nem o diletantísmo da música, da pintura, da curiosidade ou do bibelot, nem a alegria das viagens, nem a fadiga muscular do sport, nem os dispersivos deveres de sociabilidade adstritos aos encargos do mundanismo.
Viveu na sua escrita como vive um monge na sua clausura, sequestrado do século pelo condão fastiento e desdenhoso da sua índole, não lhe permitindo gozar da vida senão o sabor mordente e corrosivo da paixão amorosa, – de todas as paixões humanas a que mais frequentemente leva a apetecer a morte. De sorte que ele poderia adoptar para si o epitáfio de Beyle, compendiando a sua autobiografia na mesma breve epígrafe, resignada e altiva, resumo de todo o destino que teve na terra o seu dolorido coração e o seu grande espírito:
Escrevi, amei, vivi.»
(In Prefácio da edição monumental de Amor de Perdição. Porto: Casa Editora Alcino Aranha, 1891)