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Posts Tagged ‘Cruz Malpique’

«Era Camilo quem dizia haver três maneiras de se celebrizar: ou entrando no céu, ou na academia, ou na… cadeia.
No céu não entrou, com certeza, que ele não foi nenhum pobre de espírito.
A academia pertenceu – mas não nos consta que, alguma vez, lá tivesse posto os pés. Lá saberia porquê.
Na cadeia esteve – não uma, mas duas vezes.
Não ganhou celebridade pela banda do céu – por a porta lhe estar trancada.
Não ganhou celebridade por ser académico – porque a academia não dá celebridade a ninguém. A imortalidade que ela assegura morre no dia seguinte àquele em que o imortal desce à cova. A academia é como as estalagens espanholas do tempo da Maria Castanha: nestas o hóspede só encontrava o que levava consigo; naquela o académico só encontra a dose de imortalidade que leva consigo próprio.
Celebridade também não a ganhou por ter bisado a entrada na cadeia.
E, todavia, Camilo é célebre. Célebre – vamos dizer a coisa depressa – por ser picado do génio. As bexigas não contam.»

Cruz Malpique

 

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Camilo viveu inteiramente das letras e para as letras. Leu e escreveu. Escreveu e leu. E, nos intervalos da leitura e da escrita, viveu uma vida que desdiz dos paradigmas que levam ao altar. Para tudo teve vocação – menos para santo…
Foi autêntico grilheta da pena. Para além do amor – obsessão que o colocou constantemente nas situações mais difíceis – nada mais fez do que escrever, escrever para cumprir uma vocação de raiz e, outrossim, para ganhar o quantum satis de uma existência modestíssima. De tal modo o ganha-pão da escrita o absorveu, que nada mais fez…
A caneta foi o eixo do seu mundo – e o seu mundo…
(In Boletim da Casa de Camilo)

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