Após a leccionação de um curso intensivo sobre literatura portuguesa contemporânea na Universidade Federal de Porto Alegre; da participação em dois colóquios internacionais em São Paulo e no Rio de Janeiro, a pretexto da efeméride dos 200 Anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil; e da apresentação de uma conferência na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ); desempenhei a função de arguente nos júris de Exame Geral de Qualificação do curso de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo (USP), em 11 e 12 de Setembro de 2008, de cinco mestrandos com teses sobre a obra de Camilo Castelo Branco: Ana Luísa Patrício Campos de Oliveira, Juliana Yokoo Garcia, Luciene Marie Pavanelo, Moizeis Sobreira de Sousa e Tatiana Fátima Alves Moysés.
Os seus trabalhos eram conhecidos desde pelo menos pelo Setembro de 2007, altura em que partilhei a leccionação de curso intensivo na USP, ao nível da Pós-Gradução – intitulado “Camilo Castelo Branco: Temas e Questões” -, juntamente com os colegas da Universidade do Minho (Prof. Doutor Sérgio Paulo Guimarães de Sousa) e da Universidade de Lisboa (Prof. Doutor Ernesto Rodrigues).
Cada um dos referidos mestrandos, partindo de um reduzido e diferenciado “corpus” de obras camilianas, procura analisar determinados procedimentos compositivos (da ironia à reflexão metaficcional) e orientações temáticas. Essas análises permitirão superar quer o tradicional lugar-comum que identifica, muito redutoramente, a obra de Camilo à de um escritor de histórias passionais e lacrimejantes; quer a repetida dicotomia passional/satírico com que certa crítica também insiste em polarizar a obra camiliana.
Aliás, muito meritoriamente, estes jovens investigadores têm participado de modo activo em diversas reuniões científicas (Colóquios e Congressos), onde vão apresentando comunicações diversas, com o resultado parcial dos seus trabalhos de investigação sobre Camilo Castelo Branco. Isso mesmo aconteceu no recente no recente 4º Colóquio Internacional do PPRLB, Relações Luso-Brasileiras: D. João VI e o Oitocentismo, que teve lugar no Real Gabinete Português de Leitura, em 17-19 de Setembro de 2008, onde mais uma vez levaram cinco comunicações sobre a obra do escrito de S. Miguel de Seide.
Estes mestrandos brasileiros constituem, a nosso ver, um incentivador exemplo para outros jovens investigadores, quer de Portugal quer de outros países, que, nos seus cursos de pós-graduação (mestrado e doutoramento), podem encontrar na vastíssima obra de Camilo Castelo Branco as mais diversas e fecundas linhas de investigação, desbravando novos rumos hermenêuticos sobre um autor central da literatura portuguesa.
Trata-se, por conseguinte, de um apreciável conjunto de jovens investigadores a quem o dedicado orientador – Prof. Doutor Paulo Motta Oliveira, docente e investigador da USP -, ainda na graduação, conseguir atrair para a literatura portuguesa de Oitocentos, afinal a sua área privilegiada de investigação, desde Camilo a outros autores.
Além das pesquisas pessoais sobre Camilo e outros autores em diversas publicações, Paulo Motta Oliveira é organizador de variados volumes colectivos consagrados ao estudo da literatura portuguesa, como por exemplo: Os Centenários: Eça, Freyre, Nobre, Belo Horizonte, Faculdade de Letras/UFMG, 2001; Literatura Portuguesa Aquém-Mar (Campinas, Editora Komedi, 2005); Literatura Portuguesa: História, memória e perspectivas, São Paulo, Alameda, 2007); e ainda Literatura, história e política em Portugal (1820 – 1856), Rio de Janeiro, EdUerj, 2007).
A título de curiosidade, saliente-se ainda que no Brasil continua a editar-se e a estudar-se a obra de Camilo Castelo Branco. É razão para dizer que em terras de Santa Cruz não se valorizam apenas escritores clássicos como Luís de Camões; e modernos como Eça de Queirós ou Fernando Pessoa. Recorde-se, aliás, que houve obras de Camilo que foram editadas primeiro no Brasil e só depois em Portugal, como aconteceu com Agulha em Palheiro (1ª ed., Rio de Janeiro, 1863); ou outras cuja popularidade levou ao aparecimento de contrafacções editoriais, como foi o caso de uma edição de Doze Casamentos Felizes (Rio Grande, Typ. do «Artista», 1866), na sequência dos folhetins publicados no periódico do Rio Grande, “O Artista”.
Como ilustração dos estudos camilianos no Brasil, e além dos diversos trabalhos de Paulo Motta Oliveira, destaque-se a recente edição do estudo de Flávia Maria Corradin, também docente e investigadora da USP, intitulado Camilo Castelo Branco, Uma Dramaturgia entre a Lágrima e o Riso (Universidade de Aveiro, 2008), centrado na produção teatral de Camilo, desde o melodrama histórico à comédia de costumes burgueses. Esta publicação surge na sequência de uma tese de doutoramento de 1997, apresentada na USP e consagrada justamente a este tema.
Outro rápido exemplo destes estudos camilianos está representado no trabalho desenvolvido do Prof. Doutor Paulo Franchetti da Unicamp, em São Paulo. Em relevantes e conhecidos estudos consagrados a vários autores (de Bocage e Eça de Queirós a Camilo Pessanha e Wenceslau de Morais, por ex.), Paulo Franchetti tem dedicado particular atenção aos estudos de literatura portuguesa. A título ilustrativo da sua atenção sobre a obra camiliana, editou recentemente o romance Coração, Cabeça e Estômago (São Paulo, Martins Fontes, 2003), com estudo crítico introdutório; e num livro de ensaios críticos – Estudos de Literatura Brasileira e Portuguesa (São Paulo, Ateliê Editorial, 2007) – também concede atenção ao estudo da novela camiliana.
José Cândido de Oliveira Martins
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