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Posts Tagged ‘José Cândido de Oliveira Martins’

Sérgio Guimarães de Sousa e José Cândido de Oliveira Martins organizaram o livro de ensaios intitulado Leituras do Desejo em Camilo Castelo Branco, Opera Omnia, 2010 (269 págs.).

Trata-se de um conjunto de estudos críticos, da autoria de investigadores de várias universidades (de Portugal, Espanha e Brasil). Procurando ler Camilo a partir de renovadoras orientações temáticas e críticas, estes ensaios centram-se na importante questão do desejo, que atravessa o universo ficcional camiliano.

Da introdução do livro: “A ficção camiliana, muito assente no conflito entre a paixão e a razão, tem como ponto nevrálgico, por assim dizer, o desejo. As novelas de Camilo oferecem, deste modo, um amplo campo de estudo extremamente fértil para abordar esta questão nas suas múltiplas perspectivas e implicações. Não deixa, por isso, de ser um tanto curioso constatar que a bibliografia passiva de Camilo, mesmo a mais recente, carece de estudos especificamente focados sobre o desejo. Ao reunir, nesta colectânea, textos de um conjunto de investigadores, que aceitaram prontamente o desafio de reler Camilo na óptica do desejo, quisemos colmatar esta lacuna.”

Para maior informação sobre o conteúdo, particulariza-se o índice desta obra:

Introdução (Sérgio Guimarães de Sousa e José Cândido de Oliveira Martins)

Lembrando José Carlos Barcellos (Sérgio Nazar David)

Desejo, concupiscência e estabilidade social: os Vulcões de lama humanos e os ilusórios remédios divinos (Elias J. Torres Feijó)

Retórica contida do desejo em Doze Casamentos Felizes de Camilo Castelo Branco (José Cândido de Oliveira Martins)

Masculinidade e modernidade em Camilo Castelo Branco (José Carlos Barcellos)

Camilo: limites do desejo no mundo do capital (Paulo Motta Oliveira)

– “Amar até doer” – O desejo do amor e a perdição dos desejos  (Rosário Luppi Belo)

– Coisas da terra e do céu – Amor, desejo e humor na ficção camiliana (Serafina Martins)

– Desejo mimético n’O santo da montanha (Sérgio Guimarães de Sousa)

– O século de Silvestre da Silva (Sérgio Nazar David).

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Maria Moisés de Camilo Castelo Branco: Enredos do Coração

A fábula novelesca de Maria Moisés, de Camilo Castelo Branco configura uma típica novela sentimental, mas ao contrário do Amor de Perdição singulariza-se por dosear a mundividência romântica com uma atenção a elementos realistas. Digamos, portanto, que se trata de uma novela passional (sobretudo na 1ª Parte), equilibrada por um realismo temperado e tipicamente camiliano. Dividindo a novela em duas partes, Camilo salienta, de modo bem vincado, como veremos, dois percursos existenciais bem diferentes, mas nem por isso menos complementares: primeiro, o narrador camiliano apresenta-nos a história de Josefa da Lage; depois, com a trágica morte desta, narra-nos a vida de sua filha, Maria Moisés.

Vejamos, mais detidamente, os eventos que preenchem cada uma das partes.
(mais…)

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Camilo Castelo Branco na releitura intertextual de autores portugueses contemporâneos foi o título da comunicação apresentada pelo Prof. Dr. José Cândido de Oliveira Martins no 8.º Congresso Internacional da Associação Alemã de Lusitanistas – Deutscher Lusitanistenta, na Universidade de Munique (Luwig Maximilians Universität, München), de 3 a 5 de Setembro 2009.
O conteúdo dessa intervenção de síntese teve estas ideias principais: a vida e a obra de Camilo Castelo Branco constituíram-se como tema recorrente em vários autores portugueses contemporâneos: Aquilino Ribeiro, Teixeira de Pascoaes, Agustina Bessa-Luís, Luiz Francisco Rebelo, Mário Cláudio, entre outros. Em vários géneros literários (biografia, romance ou teatro), diversos escritores revisitam a figura e a criação camilianas. Assim, é muito interessante reflectir sobre os sentidos e as orientações desse diálogo intertextual com um autor canónico do séc. XIX, cuja recepção tem sido objecto de alguns “clichés” bastante redutores.
Independentemente de existir uma tendência marcada ou uma genealogia de escritores camilianos ao longo do séc. XX, essa recorrência temática parece comprovar a mitificação de que a vida e a obra de Camilo foram alvo, numa espécie de culto feito de admiração e de homenagem; mas também de um certo diálogo tenso e de distanciamento crítico. No cômputo geral, nesses e noutros autores contemporâneos sobressai uma escrita eminentemente intertextual, que reinterpreta Camilo e a sua obra, propondo várias leituras interpretativas. Essa continuada recepção é uma das formas de sublinhar o lugar central de Camilo no cânone da literatura portuguesa.

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Regularmente a Biblioteca Pública de Braga dedica a sua atenção a Camilo Castelo Branco, um dos maiores autores da língua portuguesa.
É o que vai suceder no próximo dia 16 de Abril, data em que vai promover a apresentação de uma nova edição de “O Morgado de Fafe em Lisboa” que a Opera Omnia acaba de lançar no mercado.
Trata-se da 10ª edição da mais conhecida peça teatral de Camilo, publicada inicialmente em 1861 e que agora é apresentada com introdução, estabelecimento de texto e notas de José Cândido Martins.
Na introdução, de 50 páginas, é feita uma bem informada incursão através da produção dramatúrgica de Camilo, que nos legou cerca de 3 dezenas de títulos de obras teatrais, aos quais não tem sido dedicada a merecida atenção, embora nem todos tenham alcançado a qualidade estética e a popularidade de “O Morgado de Fafe em Lisboa”, inúmeras vezes representado em todo o tipo de palcos e por toda a sorte de companhias.
Para fazer a apresentação pública desta comédia camiliana a BPB convidou José Cândido de Oliveira Martins (1965), doutorado em Teoria da Literatura, docente e investigador da Universidade Católica Portuguesa (Braga). Nesta instituição, tem leccionado várias disciplinas: Teoria do Texto Literário; Literatura Portuguesa (moderna); História da Arte Moderna e Retórica e Argumentação. Tem ainda colaborado com outras universidades ao nível da graduação e da pós-graduação (mestrado e doutoramento), em Portugal e noutros países.
Além de artigos vários para revistas da especialidade, de participação em congressos e colóquios, e de colaboração em diversas obras colectivas, publicou alguns livros de que se destacam Teoria da paródia surrealista (Braga, 1995); Fidelino de Figueiredo e a crítica da teoria literária positivista (Lisboa, 2007) e Viajar com… António Feijó (Porto, 2009).
No campo da publicação de autores da literatura portuguesa, organizou a edição de vários autores, com fixação do texto e introdução crítica: Camilo Castelo Branco, Eusébio Macário / A Corja (Porto, 2003) e Novelas do Minho (Porto, 2006); António Feijó, Poesias completas (Porto, 2004) e Poesias dispersas e inéditas (Porto, 2005); Teófilo Carneiro, Poesias e outros dispersos (Guimarães, 2006); Diogo Bernardes, O Lima (em publicação).
A sessão, promovida pela Biblioteca Pública de Braga, realiza-se no Museu Nogueira da Silva, pelas 21h30 do dia 16 de Abril, com entrada livre.
Henrique Barreto Nunes

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Após a leccionação de um curso intensivo sobre literatura portuguesa contemporânea na Universidade Federal de Porto Alegre; da participação em dois colóquios internacionais em São Paulo e no Rio de Janeiro, a pretexto da efeméride dos 200 Anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil; e da apresentação de uma conferência na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ); desempenhei a função de arguente nos júris de Exame Geral de Qualificação do curso de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo (USP), em 11 e 12 de Setembro de 2008, de cinco mestrandos com teses sobre a obra de Camilo Castelo Branco: Ana Luísa Patrício Campos de Oliveira, Juliana Yokoo Garcia, Luciene Marie Pavanelo, Moizeis Sobreira de Sousa e Tatiana Fátima Alves Moysés.
Os seus trabalhos eram conhecidos desde pelo menos pelo Setembro de 2007, altura em que partilhei a leccionação de curso intensivo na USP, ao nível da Pós-Gradução – intitulado “Camilo Castelo Branco: Temas e Questões” -, juntamente com os colegas da Universidade do Minho (Prof. Doutor Sérgio Paulo Guimarães de Sousa) e da Universidade de Lisboa (Prof. Doutor Ernesto Rodrigues).
Cada um dos referidos mestrandos, partindo de um reduzido e diferenciado “corpus” de obras camilianas, procura analisar determinados procedimentos compositivos (da ironia à reflexão metaficcional) e orientações temáticas. Essas análises permitirão superar quer o tradicional lugar-comum que identifica, muito redutoramente, a obra de Camilo à de um escritor de histórias passionais e lacrimejantes; quer a repetida dicotomia passional/satírico com que certa crítica também insiste em polarizar a obra camiliana.
Aliás, muito meritoriamente, estes jovens investigadores têm participado de modo activo em diversas reuniões científicas (Colóquios e Congressos), onde vão apresentando comunicações diversas, com o resultado parcial dos seus trabalhos de investigação sobre Camilo Castelo Branco. Isso mesmo aconteceu no recente no recente 4º Colóquio Internacional do PPRLB, Relações Luso-Brasileiras: D. João VI e o Oitocentismo, que teve lugar no Real Gabinete Português de Leitura, em 17-19 de Setembro de 2008, onde mais uma vez levaram cinco comunicações sobre a obra do escrito de S. Miguel de Seide.
Estes mestrandos brasileiros constituem, a nosso ver, um incentivador exemplo para outros jovens investigadores, quer de Portugal quer de outros países, que, nos seus cursos de pós-graduação (mestrado e doutoramento), podem encontrar na vastíssima obra de Camilo Castelo Branco as mais diversas e fecundas linhas de investigação, desbravando novos rumos hermenêuticos sobre um autor central da literatura portuguesa.
Trata-se, por conseguinte, de um apreciável conjunto de jovens investigadores a quem o dedicado orientador – Prof. Doutor Paulo Motta Oliveira, docente e investigador da USP -, ainda na graduação, conseguir atrair para a literatura portuguesa de Oitocentos, afinal a sua área privilegiada de investigação, desde Camilo a outros autores.
Além das pesquisas pessoais sobre Camilo e outros autores em diversas publicações, Paulo Motta Oliveira é organizador de variados volumes colectivos consagrados ao estudo da literatura portuguesa, como por exemplo: Os Centenários: Eça, Freyre, Nobre, Belo Horizonte, Faculdade de Letras/UFMG, 2001; Literatura Portuguesa Aquém-Mar (Campinas, Editora Komedi, 2005); Literatura Portuguesa: História, memória e perspectivas, São Paulo, Alameda, 2007); e ainda Literatura, história e política em Portugal (1820 – 1856), Rio de Janeiro, EdUerj, 2007).
A título de curiosidade, saliente-se ainda que no Brasil continua a editar-se e a estudar-se a obra de Camilo Castelo Branco. É razão para dizer que em terras de Santa Cruz não se valorizam apenas escritores clássicos como Luís de Camões; e modernos como Eça de Queirós ou Fernando Pessoa. Recorde-se, aliás, que houve obras de Camilo que foram editadas primeiro no Brasil e só depois em Portugal, como aconteceu com Agulha em Palheiro (1ª ed., Rio de Janeiro, 1863); ou outras cuja popularidade levou ao aparecimento de contrafacções editoriais, como foi o caso de uma edição de Doze Casamentos Felizes (Rio Grande, Typ. do «Artista», 1866), na sequência dos folhetins publicados no periódico do Rio Grande, “O Artista”.
Como ilustração dos estudos camilianos no Brasil, e além dos diversos trabalhos de Paulo Motta Oliveira, destaque-se a recente edição do estudo de Flávia Maria Corradin, também docente e investigadora da USP, intitulado Camilo Castelo Branco, Uma Dramaturgia entre a Lágrima e o Riso (Universidade de Aveiro, 2008), centrado na produção teatral de Camilo, desde o melodrama histórico à comédia de costumes burgueses. Esta publicação surge na sequência de uma tese de doutoramento de 1997, apresentada na USP e consagrada justamente a este tema.
Outro rápido exemplo destes estudos camilianos está representado no trabalho desenvolvido do Prof. Doutor Paulo Franchetti da Unicamp, em São Paulo. Em relevantes e conhecidos estudos consagrados a vários autores (de Bocage e Eça de Queirós a Camilo Pessanha e Wenceslau de Morais, por ex.), Paulo Franchetti tem dedicado particular atenção aos estudos de literatura portuguesa. A título ilustrativo da sua atenção sobre a obra camiliana, editou recentemente o romance Coração, Cabeça e Estômago (São Paulo, Martins Fontes, 2003), com estudo crítico introdutório; e num livro de ensaios críticos – Estudos de Literatura Brasileira e Portuguesa (São Paulo, Ateliê Editorial, 2007) – também concede atenção ao estudo da novela camiliana.
José Cândido de Oliveira Martins

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Nesta apreciável e formosa obra, Casas de Escritores no Minho (Guimarães, editora Opera Omnia, 2007) – em adequado formato de álbum e atraente qualidade gráfica, através da palavra informativa e evocadora das “reportagens” de Secundino Cunha, e da fotografia iluminadora e artística de Sérgio Freitas -, o leitor é convidado a viajar na memória de catorze escritores que viveram e escreveram no Minho.
As residências minhotas aqui evocadas pela palavra e pela imagem são: Casa do Alto, Guimarães (Raul Brandão); Casa do Arco, Monção (João Verde); Casa Nª. Senhora d’Aurora, Ponte de Lima (Conde d’Aurora); Casa de Belinho, Esposende (António Correia de Oliveira); Casa de Casares, Arcos de Valdevez (Tomás de Figueiredo); Casa da Comenda, Vila Verde e Casa da Tapada, Amares (Francisco Sá de Miranda); Casa do Convento de Cabanas, Viana do Castelo (Pedro Homem de Melo); Casa de Cortinhas, Arcos de Valdevez (Teixeira de Queirós/Bento Moreno); Casa de D. Maria Adelaide, Caminha (António Pedro); Casa Grande de Romarigães, Paredes de Coura (Aquilino Ribeiro); Casa do Sargaço, Viana do Castelo (Ruben A.); Casa de Santa Ana de Gondarém, V. N. de Cerveira (Luís de Almeida Braga); e Casa de S. Miguel de Seide, V. N. de Famalicão (Camilo Castelo Branco), recentemente premiada como o melhor museu português (Prémio APOM, 2006).
As casas de escritores são lugares privilegiados de preservação do variado património e espaços ímpares de memória dos que as habitaram e da sua época. Pertencendo a épocas históricas bem diferenciadas, apresentam igualmente uma grande diversidade arquitectónica, desde a casa nobilitada com brasão até à modesta casa de habitação ou de férias.
São património histórico de inegável valor patrimonial, num amplo sentido – espelham a vida de figuras ilustres que as habitaram, homens marcantes do seu tempo, tendo sido às vezes influentes espaços de convívio e de tertúlia. Mas também pela variedade sincrética do seu património (arquitectura, decoração, mobiliário, jardins e espaços envolventes, colecções artísticas – escultura, pintura, fotografia, cerâmica, etc.; e ainda pelos objectos do quotidiano, bibliotecas, arquivos particulares, etc.; elementos do património imaterial: tradições, lendas, referências históricas); quer ainda porque as próprias casas espelham a diversidade de estilos arquitectónicos de sucessivas épocas, bem como os hábitos de vida ou o gosto estético-cultural de um período ou geração.
Também no que respeita ao estatuto e actual função das casas de escritores, podemo-nos deparar com uma considerável variedade: desde a casa-museu às casas-memória; passando pelas que ainda mantêm a funcionalidade de casas de habitação ou pelas que se converteram a funcionalidade de turismo de habitação.
As casas de escritores são, deste modo, lugares habitados pela História, tornando-se insubstituíveis para a construção quer da nossa memória colectiva. Na sua riqueza e diversidade, estas quinze casas de escritores no Minho são lugares privilegiados de evocação de catorze escritores marcantes da região, vários deles com inegável projecção nacional. Não só nos permitem reviver o passado, como potenciar o vivo interesse pelas obras das figuras ilustres que as habitaram e moldaram esses espaços.
Com o charme de outras eras, a aura envolvente e a nostálgica magia que emanam, estas casas são guardiãs de memórias e de pessoas, testemunhos vivos do passado. Têm uma inegável função reveladora, na medida em que nelas se respiram vivências e atmosferas. Nesse sentido, são também espaços que despertam a nossa imaginação e os nossos sentidos, envolvendo-nos emocionalmente.
Em face do afirmado, uma casa nunca é apenas uma casa; é um mundo pessoal e especular, um universo construído ou moldado pelo escritor que o habitou (diz-me onde vives e dir-te-ei quem és…). É um microcosmos que encerra uma vida inteira. Porque afinal, nós somos sempre a casa que habitamos, na medida em que nos projectamos nela e ela se interioriza em nós.
Quando visitamos a casa de um escritor, temos a sensação de sentir um cenário tocado por um certo espírito do lugar (genius loci), de alguma maneira ligado à obra aí pensada e escrita. Neste sentido, podemos dizer que uma casa de escritor é também uma casa de memórias e de vivências, que se plasmam em maior ou menor grau na obra literária criada.
Também as casas de escritores no Minho têm uma função reveladora dos criadores que as habitaram, do seu temperamento e do carácter, das suas ideias e paixões, até dos seus amores, ódios de estimação, ou manias especiais. Neste sentido, a casa é quase sempre o prolongamento de uma personalidade, o espelho do criador que nela viveu.
Como escreveu o autor de Mau Tempo no Canal ou de O Paço do Milhafre, Vitorino Nemésio: “A minha casa é concha. Como os bichos segreguei-a de mim com paciência.” De facto, as casas de escritores constituem uma extensão da sua personalidade produtiva. Como escreveu a escritora francesa Marguerite Duras, na introdução ao livro Maisons d’Écrivains, “Les lieux où l’artiste a vécu et crée ne sont pas moins révélateurs que l’étude de son évolution intérieur ou que ses portraits” (Francesca Premoli-Droulers, Maisons d’Écrivains, Paris, Le Chêne, 1994, introdução de Marguerite Duras). Numa palavra, as casas dos escritores podem sempre iluminar o percurso biográfico destes homens célebres, na medida em que elas guardam as impressões vivas de uma vida humana ímpar.
Não podemos deixar de dar os parabéns aos responsáveis por esta bela publicação – autor, fotógrafo e editor. Mesmo os refractários ao que as casas de escritores representam (quando defendem a primazia da obra publicada em absoluto detrimento do espaço habitado, como se fossem realidades incompatíveis; ou os que recusam um certo fetichismo e morbidez destes lugares), não ficarão indiferentes ao fascínio que estes espaços representam, encontrando nesta obra um sugestivo guia de turismo literário e cultural, que preenche óbvia lacuna neste panorama. Por tudo isto, revela-se extremamente feliz e oportuna a ideia de publicar um livro sobre as Casas de Escritores no Minho.
José Cândido de Oliveira Martins

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LOPES, Óscar – Ensaios Camilianos. Organização, prefácio e notas de Luís Adriano Carlos. Porto: Fundação Engenheiro António de Almeida, 2007. 140 p.

Ao longo de várias décadas, o professor e investigador Óscar Lopes (n. 1917), catedrático jubilado da Faculdade de Letras do Porto, marcou fecundamente o mundo académico português com a sua variada investigação, desde os estudos linguísticos aos estudos literários. Recentemente, de 10 a 14 de Outubro de 2007, por iniciativa da Cooperativa Árvore e com o contributo de diversas instituições, teve lugar uma “homenagem nos 90 anos de Óscar Lopes repartida por vários lugares do Porto e Matosinhos”, com um variado programa celebrativo – “A busca do sentido na vida e obra de Óscar Lopes” – que incluiu exposições, edição de livros, concertos, encontros e um colóquio.
Aliás, já anteriormente foram publicados dois volumes diversos de homenagem à figura e carreira de Óscar Lopes – primeiro, Uma Homenagem a Óscar Lopes, Porto/Matosinhos: Afrontamento/Câmara Municipal de Matosinhos, 1996; depois, Sentido Que a Vida Faz (Estudos para Óscar Lopes), Porto: Campo das Letras, 1997.
Este volume tem a singularidade de reunir os ensaios que o autor dedicou à obra literária de Camilo Castelo Branco, publicados em revistas, em livros ou apresentados em colóquios universitários. Além de facultar uma leitura mais cómoda ao estudioso camiliano, permite uma visão mais integrada da sedução que obra do escritor romântico sempre exerceu sobre este ensaísta. Aliás, é o próprio Óscar Lopes a reconhecer num dos presentes ensaios que o genial e polígrafo escritor de S. Miguel de Seide é “o autor português que mais perplexidades e desencontros judicativos tem desencadeado nos seus leitores”.
Temporalmente falando, as indagações hermenêuticas de Óscar Lopes sobre a obra camiliana, estendem-se desde a década de 1960 – com o ensaio “Os valores em Camilo” -, até 1991, datada em que apresentou a comunicação “Ficção camiliana sobre a época barroca”, no colóquio internacional comemorativo do I Centenário da morte do escritor, evento realizado na Universidade da Califórnia (Santa Bárbara), em Abril de 1991.
Esta colectânea inicia-se com o capítulo dedicado a Camilo na mais recente edição da História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes. Contém ainda os ensaios: “Claro-escuro camiliano”, “Os valores em Camilo” , “Concepção de vida na ficção de Camilo”, “Formas de recepção a Camilo” e “De O Arco de Sant’Ana a Uma Família Inglesa”, além de breves exórdios a duas obras colectivas de crítica camiliana, aparecidas por altura do I Centenário da morte do escritor.
Ao longo destes textos crítico-hermenêuticos, o crítico marxista detém-se na indagação das dominantes ideológicas que perpassam a obra camiliana, nos seus vários estádios de evolução, nomeadamente as possíveis contradições dialécticas entre os princípios idealistas e materialistas, bem como o correspondente maniqueísmo moralizante da sua mundividência, orientações que presidem à construção sacralizada do amor-paixão ou à crítica visão do Portugal burguês e rural de Oitocentos.
Numa altura em que se assiste a uma certa revitalização dos estudos camilianos – com a dinamização de cursos universitários de pós-graduação e a publicação de vários trabalhos académicos sobre o autor, a reedição cuidada das suas obras (pela editora Caixotim, Porto, por ex.) e até a edição de autor em formato de audio-livro – saúda-se a feliz e oportuna ideia da reunião destes ensaios camilianos, por um dos intérpretes marcantes da crítica camiliana novecentista.
José Cândido de Oliveira Martins

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