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Posts Tagged ‘Maria da Fonte’

«Livro que se releia com paciência é raro como os brilhantes pretos.»
(In Maria da Fonte)

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«Pintar o vício de modo que ele faça nojo é mais eficaz que o melhor sermão sobre as transgressões da castidade.»
(In Maria da Fonte)

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«A poder de muitas teimas com o general e com o Vitorino organizou-se no 1.º de dezembro, no quartel do Pópulo, um batalhão de infantaria de linha com praças de pré apresentadas ou prisioneiras, de cabrais e patuleias, tendo por alferes rapazes de boas famílias, e daí para cima oficiais da Convenção de Évora Monte. Eu fui feito capitão de atiradores desse batalhão.»
(In Maria da Fonte)

 

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Namorar

«Disse-me que em 18 meses de namoro apenas lhe dera um ósculo. Acreditei. Era assim que se amava em 1845. Os mais atrevidos davam dois ósculos.»
(In Maria da Fonte)

 

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Durante os 27 anos que o grande escritor residiu em S. Miguel de Seide, que enriqueceram extraordinariamente a sua obra prodigiosa, – desde o Amor de Salvação, primeiro livro ali escrito, e das Novelas do Minho, até aos volumes da sua última «maneira», Brasileira de Prazins, Maria da Fonte, Vinho do Porto, General Carlos Ribeiro, Vulcões de Lama – Camilo poucos dias permanecia em casa. Sobretudo na última década.
Doente, nevropata, com os sintomas crescentes da cegueira que o prostrou – jornadeava constantemente para o Porto, para Braga, para o Bom Jesus do Monte, para a Póvoa, para Lisboa… Corria todo o país, mas, como grande autóctone, nunca passou as fronteiras. E foi assim que o portentoso homem, de terra em terra (apesar das suas amarguras cruciantes), continuou a armazenar, como fizera sempre, a farta colheita de vocabulário, com que opulentou a língua.
Além do Minho, que considerava «a província mais clássica de Portugal», Camilo ia entesourando em toda a parte – não falando agora da sua estonteante cultura vernácula – os regionalismos, as locuções populares, que aproveitava com bom gosto nos livros, e que lhe davam tanta vez um sabor e uma graça incomparáveis, com zumbidos de abelha em flor silvestre. Ele foi o mais feliz, o mais abundante neologista de termos que respigava no povo, que lhe enfeitiçavam a prosa inconfundível e lhe esmaltavam os diálogos. Nunca desaproveitou a frescura da gleba, tão certo é que as formas nativas da linguagem vêm do povo, que as deixa ao esmeril erudito. Sempre, como já escrevi, por entre os nobres loureiros clássicos, erguem-se nos seus livros os ciprestes românticos e vêem-se lindamente floridos os espinheiros bravos. A par das florações do mais famoso glossário que ainda houve, riem-se as cravinas, o trevo, as madressilvas do povo…
Não veremos, contudo, nas suas obras formas campanudas ou pedantes – de que se riu à farta, em páginas imortais. Foi um milionário com equilíbrio e gosto – que marcou sempre a sua arte de composição literária. Na estética da língua, teremos sempre de contar com o escritor genial, que soube modelar ou cinzelar nas obras, como se fosse em metal ou mármore, a «vera efígie» dum povo. E isto não é pouco: as nações vivem indelevelmente na sua língua escrita, onde lhes fica esculpida a fisionomia, com o seu espírito e os reflexos da sua alma…
Castilho tinha razão quando lhe escrevia: – «Ainda que desaparecessem todos os clássicos, a sua obra ficaria contendo todos os tesouros da língua.» E noutro passo: – «Sim, senhor! é mestre e cem vezes mestre; e de todos os nossos clássicos nenhum há que eu leia com tamanho gosto e aproveitamento.» A tais palavras e a muitas outras de rasgado entusiasmo, responde elegantemente Camilo: «Continua V. Ex.” a ensinar-me português, e diz que lhe enriqueço o seu dicionário. A meu ver, V. Ex.ª não conhece o que é seu: dá-me as jóias, e, quando eu lhas devolvo, entesoura-as em meu nome.»
(In Recordações dum Velho Poeta)

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A cada um seu Camilo, está visto. Na verdade, a obra do nosso escritor é um mundo tão vasto e proteico que dificilmente se poderá encontrar alguém que o não admire e aprecie em alguma das suas facetas. Há quem prefira nele as histórias de amores contrariados e lágrimas. Há quem prefira as páginas de sarcasmo ou, quando em maré de benevolência, de ironia – de toda a maneira, troça implacável. Há quem prefira o manejar do varapau de polemista invencível. Há até quem prefira o coca-bichinhos de miuçalhas históricas e genealógicas. Há sempre um Camilo que nos diz qualquer coisa.
Pessoalmente, aprecio-o e admiro-o visto de qualquer ângulo – tirante, confesso, o da poesia. Tanto me comovo com o Amor de perdição, como me divirto com a Queda dum anjo, como pasmo da mestria narrativa das Novelas do Minho ou de A Brasileira de Prazins, como passo duas horas entretidas com as suas obras ditas menores, tipo Cavar em ruínas ou Cousas leves e pesadas.
Mas obviamente há sempre um livro de Camilo que, por um motivo ou outro, nos fala mais. Às vezes nem nós sabemos exactamente porquê. O certo é que fala e prende. Acontece-me isso com Maria da Fonte. É como se sabe uma obra simultaneamente de reminiscências históricas e de polémica contra um outro livro, aparecido em 1884, com o título de Apontamentos para a História da Revolução do Minho em 1846 ou da Maria da Fonte, da autoria do ultramontano Padre Casimiro José Vieira, que a si mesmo se intitulava «defensor das cinco chagas e general das duas províncias do norte» e que – Camilo o cita com ironia – «acaudilhou trinta mil homens e abalou por duas vezes o trono».
O padre é ao mesmo tempo mitómano e megalómano. Reescreve a história ao sabor e à medida da sua auto-estima e do seu ódio aos pedreiros-livres. Claro que Camilo reduz metodicamente a cisco as patacoadas do padre, usando armas que tinha sempre à mão de semear: vigor de raciocínio e de argumentação, segurança nos dados históricos, cultura vasta e vastas leituras, sarcasmo e ironia em doses equivalentes.
É impossível ler o livro sem espirrar aqui e ali frouxos de riso (expressão bem camiliana) à custa das bordoadas com que Camilo deslomba (outra expressão bem camiliana) o padre Casimiro. A técnica usada é bem ao jeito do nosso polemista e deu bons resultados em ocasiões anteriores: reduzir os dislates do adversário a estilhaços e brincar depois com eles, por vezes quase até à crueldade.
A Maria da Fonte termina com um “Pós-escrito” que constitui, a meu ver, uma das páginas mais admiráveis de Camilo. Mantém o tom geral do livro, ora sarcástico, ora irónico, mas tempera-o agora de severidade e indignação. Ainda não li em parte alguma – salvo talvez em A velhice do Padre Eterno, em todo o caso num registo diferente – um requisitório tão enérgico e tão sentido contra um certo clericalismo sectário e de vistas estreitas como acontece ser o do padre Casimiro, que acaba por não distinguir entre política e religião e vaticina que todos os adversários hão-de dar «pulos no inferno». O “Pós-escrito” é uma cúpula primorosa para as duzentas e tal páginas do livro. Termina assim:
«[…]As modernas angústias do homem que chama os deuses à imitação do terror antigo que os criara, são sagradas e tamanhas que é pouco menos de infame afrontar com vitupérios o incrédulo atormentado pelo seu materialismo. É isso a esponja chegada aos lábios desses Cristos que se dilaceram nas presas da sua dúvida para se resgatarem pela morte. Se não pode compadecer-se, padre, seja ao menos egoísta. Arranje o paraíso eterno da sua pessoa, e deixe os ateus, deixe-os padecer e morrer. Não lhes faça pressão crudelíssima nos espinhos da sua coroa, injuriando-os porque eles não podem crer que haja um deus a contemplar, com a impassibilidade de um Nero divino, as suas criaturas estorcidas entre as labaredas do incêndio que Sua Majestade Suprema assoprou sem ter primeiramente consultado a vontade das vítimas. Cale-se, padre, por honra de Deus, se o acredita!»
Pires Cabral

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