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«Custa a crer o solilóquio!
Ainda não há meia hora que ela o viu, enovelados em poeira, o cavaleiro e o cavalo sumirem-se para sempre, e já tão cedo se preocupa do afeto inspirado a um estranho, que ontem vira! Que coração e juízo tem esta criatura! É um coração e juízo exóticos: coisas de França; que em Portugal – terra onde mais sinceramente e ajuizadamente se ama e morre de amor – nenhuma senhora, em caso semelhante, faria monólogos daqueles.»
(In O Esqueleto)
Posts Tagged ‘O Esqueleto’
Coisas de França
Posted in Extratos da obra, tagged coração, França, juízo, O Esqueleto, Portugal on Novembro 5, 2013| Leave a Comment »
Margarida, francesa e casada
Posted in Extratos da obra, tagged Dinheiro, Margarida, mulher, Nicolau, O Esqueleto on Outubro 8, 2013| Leave a Comment »
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«- Honestamente vivia eu em casa de meu marido, senhor Nicolau de Mesquita! O senhor pregou-me a desmoralização, e agora está-me doutrinando a honestidade! Que escárnio! O seu dinheiro não pode reabilitar a mulher que a sua perversa índole abismou! O senhor faz mulheres perdidas, não refaz honestas!»
(In O Esqueleto)
Pensamento da semana
Posted in Pensamento da semana, tagged burrificar, elevar, Ideal, O Esqueleto, sujeito on Setembro 29, 2013| Leave a Comment »
«Certos sujeitos quando cuidam que o ideal os eleva, burrificam-se.»
(In O esqueleto)
Pensamento da semana
Posted in Pensamento da semana, tagged elevar, Ideal, O Esqueleto, sujeito on Dezembro 16, 2012| Leave a Comment »
«Certos sujeitos quando cuidam que o ideal os eleva, burrificam-se.»
(In O esqueleto)
“Percebo o Vasco Pulido Valente”
Posted in Camilo visto por, tagged Camilo, Camilo Castelo Branco, Casa de Camilo, Casa-Museu de Camilo, Laurinda Alves, O Esqueleto, Vasco Pulido Valente on Setembro 28, 2009| Leave a Comment »
VASCO Pulido Valente declarou [Público, 06 de Setembro de 2009] que leu toda a obra de Camilo Castelo Branco porque o desafiaram a escrever um guião para cinema a partir de “O Esqueleto” e isso lhe trouxe vários embaraços. Por coincidência, eu própria passei a última semana a ler Camilo e percebo o Vasco quando fala da impossibilidade da coisa, das palavras que não vêm nos melhores dicionários e dos adjectivos que não se podem fotografar. Para lá do trágico-romântico “Amor de Perdição” (já filmado), é praticamente impossível representar sem estereótipos fatais a exuberância descritiva e a eloquência narrativa de Camilo.
Reli “A Queda dum Anjo” e leio agora “Eusébio Macário” com o gozo partilhado dos camilianos. Deliro com a sua gramática e com a maravilha dos seus parágrafos compostos de adjectivos, preposições, conjunções, interjeições e verbos conjugados de formas mais ou menos improváveis. Esfervilhar, tosquenejar, escorvar ou curvetear são apenas alguns exemplos, mas há muitos mais. Gosto da precisão com que Camilo descreve lugares, pessoas, relações e linhagens: “Uma fidalga magra, com perfil de santa e um sorriso bom para a morte e para o marido” é muito bom. Acho que vou fazer como o Vasco e ler a obra toda de uma ponta à outra.
Laurinda Alves
Jornalista
http://laurindaalves.blogs.sapo.pt
“Voltar a casa”
Posted in Camilo visto por, tagged Camilo, Camilo Castelo Branco, Casa de Camilo, Casa-Museu de Camilo, O Esqueleto, Vasco Pulido Valente on Setembro 28, 2009| Leave a Comment »
Recebi um pedido — de resto, vago — para escrever um guião (de cinema) sobre um romance de Camilo (no caso, O Esqueleto). Resolvi ler a obra toda — uma apreciável empreitada. Não me vou expandir em considerações literárias, para que não tenho competência. Embora não inteiramente analfabeto, três coisas me fizeram impressão. Primeira, a quantidade de palavras, que não conhecia e que fui obrigado a procurar em dicionários (os melhores do mercado), em que elas, para minha surpresa, não constavam. Segunda, as dificuldades da construção sintáctica, que já não me era familiar e quase me obrigou a decifrar certo português como latim. E, terceira, o já esperado embaraço — e também vergonha — de traduzir prosa para acção. Como dizia alguém a Scott Fitzgerald, por volta de 1930, não é possível fotografar adjectivos — nem verbos, nem preposições.
O empobrecimento da língua (não só devido à minha idade) custa. Não se lê interminavelmente uma prosa primária — na imprensa e nos livros que vão saindo — sem sofrer as consequências. Um dia, há pouco tempo, uma figura notável dos jornais (um director) resolveu declarar o meu “estilo” antigo. E, na medida em que usa mais de cem palavras, com certeza que é. Mas não me parece que o “estilo” SMS ou o “estilo” TV tenham aumentado consideravelmente a capacidade da expressão humana (e, em particular, da portuguesa). Sei muito bem, e tristemente, que a cultura das letras começa a desaparecer e está, a muito curto prazo, condenada. Mas não deixo de lamentar que o prazer de uma frase, de um parágrafo ou de uma vírgula maléfica se percam para sempre.
Este último ano que passei na televisão não foi feliz, sem culpa nenhuma para Manuela Moura Guedes, que me tratou com inalterável generosidade. À parte a minha má imagem (um understatement), a minha má voz, geral incoerência e péssima dicção, sucede que escrever (um ofício em que me eduquei) é exactamente o contrário de falar. Quem fala improvisa; quem escreve calcula, planeia, emenda, substitui. Os dois processos são contrários. Pior, são incompatíveis. Verdade que a prosa acabou por me levar à televisão: um compreensível acidente. Só que “um homem de letras”, mesmo medíocre, nunca, no fundo, se transforma. Voltar a este privilegiado canto é, para mim, como voltar para casa.
Vasco Pulido Valente
(Público, de 6 de Setembro de 2009)