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Posts Tagged ‘O Morgado de Fafe Amoroso’

«… a vergonha é uma excrescência que nos molesta, e deve ser amputada da consciência, como quem corta um calo.»
(In O Morgado de Fafe amoroso)

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«…
– Tia Pôncia! Há uma mulher que não pertence a este mundo.
– Coitadinha! Foi por ela que tocaram ontem os sinos a defuntos? Então, rezemos-lhe por alma.»
(In O Morgado de Fafe amoroso)

 

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E porque o ato de LER pode constituir uma excelente oportunidade para ultrapassar estes tempos de confinamento, divulgamos o projeto de leituras performativas da Escola Padre Benjamim Salgado, realizado em parceria com o teatro Disdascália e o Serviço Educativo da Casa de Camilo.

Resultado do concurso:

1.º classificado: áudio 2 – Mariana Silva, do 9ºA – Poema à mãe, de Eugénio de Andrade

2.º classificado: áudio 3 – Mariana Silva, do 9ºA – O Morgado de Fafe Amoroso, de Camilo Castelo Branco

3.º classificado: áudio 1 – Sofia Martins, 11ºB – A rapariga que inventou um sonho, de Haruki Murakami

Para ouvir as leituras:

https://aepbs.net/site/index.php/dmynoticias/leituraminhavida-1920

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«Importa-me desmascarar hipócritas diante dum público respeitável.»
(In O Morgado de Fafe amoroso)

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Se fizeres a corte a uma rapariga rica, riem de ti os zombeteiros, os candidatos à rapariga rica, mas esse riso só pode ser-te penoso se a mulher te não indemnizar com o sorriso dela. Conheço enormíssimos alarves, que tentaram e prosperam. Quando um homem diz de si para si: «hei-de casar rico, apesar de todos os contratempos», casa rico. O primeiro passo a dar é um homem convencer-se de que a vergonha é uma excrescência que nos molesta, e deve ser amputada da consciência como se corta um calo. A segunda é procurar a mulher através de todas as torpezas, como o mineiro procura o oiro através do saibro e do lodo. O terceiro é levar com a porta na cara, e ficar com a cara voltada para outra porta. O quarto é teimar. O quinto é teimar.
(In
O Morgado de Fafe Amoroso)

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Acaba de ser publicada uma nova edição da comédia de costumes O Morgado de Fafe Amoroso (Ed. Opera Omnia), de Camilo Castelo Branco. Segue-se à anterior publicação de O Morgado de Fafe em Lisboa. Tal como a anterior, esta edição é da responsabilidade de Cândido Oliveira Martins (docente da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa), na sua introdução crítica fixação do texto e notas textuais. Do extenso texto introdutório a O Morgado de Fafe Amoroso publica-se um breve excerto inicial.

Quatro anos após o sucesso público d’O Morgado de Fafe em Lisboa [1861], e no contexto de assombrosa operosidade criativa, Camilo Castelo Branco publica uma nova comédia de costumes com o mesmo protagonista, O Morgado de Fafe Amoroso [1865], comédia em três actos, cuja acção decorre agora na Foz do Douro, em 1862. Esta reiteração da figura do morgado acontece justamente no ano em que o dramaturgo publica a 2ª edição do primeiro morgado de Fafe, a farsa editada em 1861; ao mesmo tempo que mostra como o autor tem a percepção da relevância e do significado da personagem central que criara. A manifesta paródia da literatura ultra-romântica, a graciosa e satírica tematização do casamento, a capacidade de análise burlesca dos vários estratos sociais em confronto e a variedade dos procedimentos do cómico, tornam esta peça uma das mais representativas do teatro de costumes camiliano.

A nova farsa ou comédia de costumes foi representada pela primeira vez no Teatro Nacional D. Maria II, logo no dia 2 de Fevereiro de 1863, conforme se lê na página de rosto da edição d’O Morgado de Fafe Amoroso, três anos depois da anterior comédia camiliana. Na sequência do primeiro Morgado de Fafe, este texto dramático deve ser lido como uma acutilante e divertida paródia da literatura e sociedade ultra-românticas, servindo-se do pastiche cómico, da sátira e da caricatura. Como adiante se demonstrará, mais uma vez se confirma que a grandeza e a diversidade da produção literária de Camilo não justificam a marginalização ou apagamento da sua criação teatral – mesmo que o teatro seja visto como “um afluente secundário do rio tumultuoso que é a obra monumental de Camilo”.

Para uma leitura mais aprofundada desta divertida e acutilante análise da “comédia humana”, e em face da escassa bibliografia crítica sobre esta peça camiliana e acerca do teatro camiliano em geral, vale a pena que nos detenhamos na exposição crítica de três linhas de força da organização textual e expressividade semântica desta farsa.

Um dos aspectos mais relevantes da composição d’O Morgado de Fafe Amoroso reside no processo de escrita, com destaque para a manifesta e variada tessitura intertextual. Desde logo, no recurso a um tipo menos habitual de intertextualidade, mas concretamente homo-autoral, já que a peça camiliana se relaciona, ao nível da composição textual, com outros textos do mesmo autor, aliás procedimento de autotextualidade método bastante frequente na escrita efabuladora de Camilo.

Primeiro, a fábula dramática desta peça surge na sequência directa de uma peça anterior, a bem sucedida comédia O Morgado de Fafe em Lisboa, protagonizada pelo inesquecível e patusco morgado minhoto, António dos Amares Tinoco Valadares. É sobretudo este morgado provinciano que polariza um certo bom-senso e sabedoria popular, contrastando com a retórica sentimental personificada por alguns janotas galanteadores e mais ilustrados.

Aliás, ao longo do enredo teatral, surgem várias afirmações a relembrar ao leitor essa ligação intertextual. Logo no Acto I, o morgado apresenta um argumento com base em exemplo, para demonstrar certa matriz francesa da reinante cultura ultra-romântica: “Não se admire que lá em Lisboa, onde eu estive há quatro anos, as famílias falavam em francês como se estivessem em França. Eu ia lá a casa de um barão, que me quis impingir a filha (…)” (I, 4). Em outra passagem, o mesmo morgado evoca analepticamente: “ Ó primo Heitor, olhe que estas barretinas já se não usavam em Lisboa quando eu lá estive há quatro anos. A filha do barão de Carrurrães tinha uma muito mais pequena (…)” (I, 9).

Ao mesmo tempo, a fábula dramática deste Morgado de Fafe em Lisboa também dialoga, intertextualmente, com uma narrativa de Camilo, Cenas da Foz [1857], publicada poucos anos antes. Recorde-se, aliás, que a narrativa Cenas da Foz tinha sido previamente editada sob a forma de folhetim nas páginas do jornal vianense A Aurora do Lima [de Nov. de 1856 a Out. de 1857].

A focalização narrativa é confiada a uma personagem (João Júnior), tendo como epicentro geográfico S. João da Foz, no Porto. Curiosamente, o autor de Noites de Insónia [1874] referir-se-á a alguns factos narrados em Cenas da Foz como tendo uma base verídica, como anota em evocações do que presenciou em S. João da Foz do Porto: “Eu já contava então uns decrépitos vinte e nove anos [em 1856, tinha trinta e um], e conhecia vários acontecimentos impudicos, por exemplo, aquele da D. Hermenegilda de Amarante, que eu exibi às lágrimas do público sensível nas Cenas da Foz”.

Deste modo, se o protagonista morgado de Fafe é recuperado da anterior comédia camiliana, já as outras personagens – sob os mesmos nomes ou apenas com ligeiras modificações onomásticas – transitam do referido romance para a nova comédia teatral do autor. Curiosamente, o autor de Noites de Insónia [1874] referir-se-á a alguns factos narrados em Cenas da Foz como tendo uma base verídica, como anota em evocações do que presenciou em S. João da Foz do Porto: “Eu já contava então uns decrépitos vinte e nove anos [em 1856, tinha trinta e um], e conhecia vários acontecimentos impudicos, por exemplo, aquele da D. Hermenegilda de Amarante, que eu exibi às lágrimas do público sensível nas Cenas da Foz” .

Com uma intervenção menos saliente do que na anterior comédia de costumes (completada com a figura da criada Pôncia), o central morgado desloca-se assim do elegante salão lisboeta para a popular praia portuense da Foz do Douro (e uma hospedaria) – dois cronótopos distintos e semanticamente expressivos (salão e praia), do ponto de vista estético-literário e sociológico-cultural, sobretudo na caracterização de uma certa burguesia e pequena nobreza contemporâneas, de origem urbana e rural, mais ou menos endinheiradas.

Camilo Castelo Branco – O Morgado de Fafe Amoroso
Guimarães, Opera Omnia, 2010
(introd., fixação do texto e notas de J. Cândido Martins)
Fonte: Letras & Letras

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“Do extraordinário e diversificado universo literário construído por Camilo Castelo Branco (1825-1890) – numa obra genial e, por vezes, desequilibrada, mas seguida com fervor pelo «respeitável público» -, a Biblioteca-Arquivo Teatral Francisco Pillado Mayor [Departamento de Galego-Portugués, Francés e Linguística da Facultade de Filoloxía da Universidade da Coruña] edita, neste volume, as suas duas peças mais justamente representadas e (re)conhecidas: as comédias O Morgado de Fafe em Lisboa e O Morgado de Fafe Amoroso, publicadas, respectivamente, em 1861 e 1865 e estreadas a 18 de Fevereiro de 1860 e a 2 de Fevereiro de 1863, no lisboeta Teatro Nacional “D. Maria II”.
Nestas duas propostas de dramaturgia fársica, a sátira e a comicidade, a partir da estratégia textual e dos seus inegáveis potenciais de translação cénica, apresenta-se inteiramente dirigida ao ataque de um alvo pré-concebido: o da abordagem diminuidora e mordaz da ideologia e a(s) fórmula(s) de um ultra -romantismo fossilizado, que é o objectivo primeiro da peça localizada em Lisboa e também o elemento basilar da obra que a prolonga na Foz. Para além da feliz contestação dos modos e da moda do estereotipado teatro romântico e da feroz destruição da convenção e da impostura literárias, com efeito, uma e outra obra aparecem orientadas para um impiedoso descobrimento da hipocrisia social, sustentado num constante e céptico confronto entre a matéria do riso, que, perante o absurdo do ridículo, dá liberdade, e a derivada matéria da verdade, que, perante a vacuidade da ideologia, produz amargura.
De facto, a reacção por saturação e a consciência da falsidade dos dramas românticos do próprio Camilo vai tomar formas e conteúdos auto-paródicos e iconoclastas nestas extraordinárias comédias, apesar dos traços humanitaristas, “veristas” e verosímeis, das linhas de contestação social e literária ou dos traços autobiográficos com intuitos catárticos que, por vezes, emergem do mar de lágrimas, da maré de conciliação burguesa ou das ondas da sua atormentada vida, na dramaturgia camiliana mais convencional.
Enfim, pode-se afirmar que as duas peças protagonizadas pelo Morgado de Fafe possuem tanto o processo de crescimento, como o potencial de actualização que dão vida intemporal e acompanham os textos “clássicos”, pois, atacando as bases do próprio (e duplo) fingimento dramático como mostram as repetidas alusões distanciadoras ao próprio teatro ante o exagero de atitudes e situações, são muito mais – e já não seria pouco – do que típicas farsas que não visam mais que fazer rir pela típica tromperie bouffonne.
(Da Introdução, por Carlos Paulo Martínez Pereiro)

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