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Acaba de ser publicada uma nova edição da comédia de costumes O Morgado de Fafe Amoroso (Ed. Opera Omnia), de Camilo Castelo Branco. Segue-se à anterior publicação de O Morgado de Fafe em Lisboa. Tal como a anterior, esta edição é da responsabilidade de Cândido Oliveira Martins (docente da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa), na sua introdução crítica fixação do texto e notas textuais. Do extenso texto introdutório a O Morgado de Fafe Amoroso publica-se um breve excerto inicial.

Quatro anos após o sucesso público d’O Morgado de Fafe em Lisboa [1861], e no contexto de assombrosa operosidade criativa, Camilo Castelo Branco publica uma nova comédia de costumes com o mesmo protagonista, O Morgado de Fafe Amoroso [1865], comédia em três actos, cuja acção decorre agora na Foz do Douro, em 1862. Esta reiteração da figura do morgado acontece justamente no ano em que o dramaturgo publica a 2ª edição do primeiro morgado de Fafe, a farsa editada em 1861; ao mesmo tempo que mostra como o autor tem a percepção da relevância e do significado da personagem central que criara. A manifesta paródia da literatura ultra-romântica, a graciosa e satírica tematização do casamento, a capacidade de análise burlesca dos vários estratos sociais em confronto e a variedade dos procedimentos do cómico, tornam esta peça uma das mais representativas do teatro de costumes camiliano.

A nova farsa ou comédia de costumes foi representada pela primeira vez no Teatro Nacional D. Maria II, logo no dia 2 de Fevereiro de 1863, conforme se lê na página de rosto da edição d’O Morgado de Fafe Amoroso, três anos depois da anterior comédia camiliana. Na sequência do primeiro Morgado de Fafe, este texto dramático deve ser lido como uma acutilante e divertida paródia da literatura e sociedade ultra-românticas, servindo-se do pastiche cómico, da sátira e da caricatura. Como adiante se demonstrará, mais uma vez se confirma que a grandeza e a diversidade da produção literária de Camilo não justificam a marginalização ou apagamento da sua criação teatral – mesmo que o teatro seja visto como “um afluente secundário do rio tumultuoso que é a obra monumental de Camilo”.

Para uma leitura mais aprofundada desta divertida e acutilante análise da “comédia humana”, e em face da escassa bibliografia crítica sobre esta peça camiliana e acerca do teatro camiliano em geral, vale a pena que nos detenhamos na exposição crítica de três linhas de força da organização textual e expressividade semântica desta farsa.

Um dos aspectos mais relevantes da composição d’O Morgado de Fafe Amoroso reside no processo de escrita, com destaque para a manifesta e variada tessitura intertextual. Desde logo, no recurso a um tipo menos habitual de intertextualidade, mas concretamente homo-autoral, já que a peça camiliana se relaciona, ao nível da composição textual, com outros textos do mesmo autor, aliás procedimento de autotextualidade método bastante frequente na escrita efabuladora de Camilo.

Primeiro, a fábula dramática desta peça surge na sequência directa de uma peça anterior, a bem sucedida comédia O Morgado de Fafe em Lisboa, protagonizada pelo inesquecível e patusco morgado minhoto, António dos Amares Tinoco Valadares. É sobretudo este morgado provinciano que polariza um certo bom-senso e sabedoria popular, contrastando com a retórica sentimental personificada por alguns janotas galanteadores e mais ilustrados.

Aliás, ao longo do enredo teatral, surgem várias afirmações a relembrar ao leitor essa ligação intertextual. Logo no Acto I, o morgado apresenta um argumento com base em exemplo, para demonstrar certa matriz francesa da reinante cultura ultra-romântica: “Não se admire que lá em Lisboa, onde eu estive há quatro anos, as famílias falavam em francês como se estivessem em França. Eu ia lá a casa de um barão, que me quis impingir a filha (…)” (I, 4). Em outra passagem, o mesmo morgado evoca analepticamente: “ Ó primo Heitor, olhe que estas barretinas já se não usavam em Lisboa quando eu lá estive há quatro anos. A filha do barão de Carrurrães tinha uma muito mais pequena (…)” (I, 9).

Ao mesmo tempo, a fábula dramática deste Morgado de Fafe em Lisboa também dialoga, intertextualmente, com uma narrativa de Camilo, Cenas da Foz [1857], publicada poucos anos antes. Recorde-se, aliás, que a narrativa Cenas da Foz tinha sido previamente editada sob a forma de folhetim nas páginas do jornal vianense A Aurora do Lima [de Nov. de 1856 a Out. de 1857].

A focalização narrativa é confiada a uma personagem (João Júnior), tendo como epicentro geográfico S. João da Foz, no Porto. Curiosamente, o autor de Noites de Insónia [1874] referir-se-á a alguns factos narrados em Cenas da Foz como tendo uma base verídica, como anota em evocações do que presenciou em S. João da Foz do Porto: “Eu já contava então uns decrépitos vinte e nove anos [em 1856, tinha trinta e um], e conhecia vários acontecimentos impudicos, por exemplo, aquele da D. Hermenegilda de Amarante, que eu exibi às lágrimas do público sensível nas Cenas da Foz”.

Deste modo, se o protagonista morgado de Fafe é recuperado da anterior comédia camiliana, já as outras personagens – sob os mesmos nomes ou apenas com ligeiras modificações onomásticas – transitam do referido romance para a nova comédia teatral do autor. Curiosamente, o autor de Noites de Insónia [1874] referir-se-á a alguns factos narrados em Cenas da Foz como tendo uma base verídica, como anota em evocações do que presenciou em S. João da Foz do Porto: “Eu já contava então uns decrépitos vinte e nove anos [em 1856, tinha trinta e um], e conhecia vários acontecimentos impudicos, por exemplo, aquele da D. Hermenegilda de Amarante, que eu exibi às lágrimas do público sensível nas Cenas da Foz” .

Com uma intervenção menos saliente do que na anterior comédia de costumes (completada com a figura da criada Pôncia), o central morgado desloca-se assim do elegante salão lisboeta para a popular praia portuense da Foz do Douro (e uma hospedaria) – dois cronótopos distintos e semanticamente expressivos (salão e praia), do ponto de vista estético-literário e sociológico-cultural, sobretudo na caracterização de uma certa burguesia e pequena nobreza contemporâneas, de origem urbana e rural, mais ou menos endinheiradas.

Camilo Castelo Branco – O Morgado de Fafe Amoroso
Guimarães, Opera Omnia, 2010
(introd., fixação do texto e notas de J. Cândido Martins)
Fonte: Letras & Letras

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Sérgio Guimarães de Sousa e José Cândido de Oliveira Martins organizaram o livro de ensaios intitulado Leituras do Desejo em Camilo Castelo Branco, Opera Omnia, 2010 (269 págs.).

Trata-se de um conjunto de estudos críticos, da autoria de investigadores de várias universidades (de Portugal, Espanha e Brasil). Procurando ler Camilo a partir de renovadoras orientações temáticas e críticas, estes ensaios centram-se na importante questão do desejo, que atravessa o universo ficcional camiliano.

Da introdução do livro: “A ficção camiliana, muito assente no conflito entre a paixão e a razão, tem como ponto nevrálgico, por assim dizer, o desejo. As novelas de Camilo oferecem, deste modo, um amplo campo de estudo extremamente fértil para abordar esta questão nas suas múltiplas perspectivas e implicações. Não deixa, por isso, de ser um tanto curioso constatar que a bibliografia passiva de Camilo, mesmo a mais recente, carece de estudos especificamente focados sobre o desejo. Ao reunir, nesta colectânea, textos de um conjunto de investigadores, que aceitaram prontamente o desafio de reler Camilo na óptica do desejo, quisemos colmatar esta lacuna.”

Para maior informação sobre o conteúdo, particulariza-se o índice desta obra:

Introdução (Sérgio Guimarães de Sousa e José Cândido de Oliveira Martins)

Lembrando José Carlos Barcellos (Sérgio Nazar David)

Desejo, concupiscência e estabilidade social: os Vulcões de lama humanos e os ilusórios remédios divinos (Elias J. Torres Feijó)

Retórica contida do desejo em Doze Casamentos Felizes de Camilo Castelo Branco (José Cândido de Oliveira Martins)

Masculinidade e modernidade em Camilo Castelo Branco (José Carlos Barcellos)

Camilo: limites do desejo no mundo do capital (Paulo Motta Oliveira)

– “Amar até doer” – O desejo do amor e a perdição dos desejos  (Rosário Luppi Belo)

– Coisas da terra e do céu – Amor, desejo e humor na ficção camiliana (Serafina Martins)

– Desejo mimético n’O santo da montanha (Sérgio Guimarães de Sousa)

– O século de Silvestre da Silva (Sérgio Nazar David).

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A programação do Teatro-Cinema de Fafe prosseguiu no passado sábado, dia 20 de Junho, pelas 21h30, com a apresentação da peça O Morgado de Fafe em Lisboa, de Camilo Castelo Branco, pela companhia Nova Comédia Bracarense.
Camilo Castelo Branco, tão bom conhecedor dos costumes em vigor na capital e na província, coloca ao seu jeito irónico e satírico estas duas realidades humanas em cena aberta na comédia social O Morgado de Fafe em Lisboa. E se o autor conhecia bem as realidades do Minho profundo e da capital já que penetra com acutilância no âmago característico de cada uma delas, para as colocar num cómico frente-a-frente, também conhecia como ninguém toda a vastidão moral da alma humana, morasse ela no peito embalsamado da aristocracia decadente ou no peito despido e ingénuo do provinciano primário e sincero. Assim era o país em meados do séc. XIX (1861), dividido entre uma burguesia pretensiosa, fátua, ociosa, marcadamente calculista, particularmente na forma como organizava os casamentos de família, onde o dinheiro tinha um papel mais importante que o amor, e uma sociedade popular, composta de lavradores, comerciantes, pequenos industriais e baixo clero, laboriosa, pertinaz, derreada com impostos e trabalho, sem tempo para devaneios ultra-românticos ou chás dançantes nos salões da frivolidade e do ócio…
Foram personagens e intérpretes desta comédia os seguintes actores: Barão de Cassurrães – Vasco Oliveira; Baronesa de Cassurrães – Ana Leite; Morgado de Fafe – Diamantino E.; António Soares – António Manuel; Luís Pessanha – Manuel Barros; João Leite – Miguel Araújo;D. Leocádia – Fátima Araújo; Francisco de Proença – Luís Marado; 1ª dama – Ana Rita; 2ª dama – Marta Leite; 3ª dama – Matilde; Criado – Rui Lucas; Juiz – Bruno Boss e Escrivão – Tiago Pintas.
O encenador é Fernando Pinheiro.
A peça “O Morgado de Fafe em Lisboa” tem sido apresentada em várias cidades do norte de Portugal no âmbito da publicação da obra homónima de Camilo Castelo Branco editada pela Editora Opera Omnia.

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Regularmente a Biblioteca Pública de Braga dedica a sua atenção a Camilo Castelo Branco, um dos maiores autores da língua portuguesa.
É o que vai suceder no próximo dia 16 de Abril, data em que vai promover a apresentação de uma nova edição de “O Morgado de Fafe em Lisboa” que a Opera Omnia acaba de lançar no mercado.
Trata-se da 10ª edição da mais conhecida peça teatral de Camilo, publicada inicialmente em 1861 e que agora é apresentada com introdução, estabelecimento de texto e notas de José Cândido Martins.
Na introdução, de 50 páginas, é feita uma bem informada incursão através da produção dramatúrgica de Camilo, que nos legou cerca de 3 dezenas de títulos de obras teatrais, aos quais não tem sido dedicada a merecida atenção, embora nem todos tenham alcançado a qualidade estética e a popularidade de “O Morgado de Fafe em Lisboa”, inúmeras vezes representado em todo o tipo de palcos e por toda a sorte de companhias.
Para fazer a apresentação pública desta comédia camiliana a BPB convidou José Cândido de Oliveira Martins (1965), doutorado em Teoria da Literatura, docente e investigador da Universidade Católica Portuguesa (Braga). Nesta instituição, tem leccionado várias disciplinas: Teoria do Texto Literário; Literatura Portuguesa (moderna); História da Arte Moderna e Retórica e Argumentação. Tem ainda colaborado com outras universidades ao nível da graduação e da pós-graduação (mestrado e doutoramento), em Portugal e noutros países.
Além de artigos vários para revistas da especialidade, de participação em congressos e colóquios, e de colaboração em diversas obras colectivas, publicou alguns livros de que se destacam Teoria da paródia surrealista (Braga, 1995); Fidelino de Figueiredo e a crítica da teoria literária positivista (Lisboa, 2007) e Viajar com… António Feijó (Porto, 2009).
No campo da publicação de autores da literatura portuguesa, organizou a edição de vários autores, com fixação do texto e introdução crítica: Camilo Castelo Branco, Eusébio Macário / A Corja (Porto, 2003) e Novelas do Minho (Porto, 2006); António Feijó, Poesias completas (Porto, 2004) e Poesias dispersas e inéditas (Porto, 2005); Teófilo Carneiro, Poesias e outros dispersos (Guimarães, 2006); Diogo Bernardes, O Lima (em publicação).
A sessão, promovida pela Biblioteca Pública de Braga, realiza-se no Museu Nogueira da Silva, pelas 21h30 do dia 16 de Abril, com entrada livre.
Henrique Barreto Nunes

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No próximo dia 21 de Março (sábado), pelas 17h00, terá lugar no Centro de Estudos Camilianos (S. Miguel de Seide – Famalicão) a apresentação da nova edição de O Morgado de Fafe em Lisboa.
A sessão de lançamento no Centro de Estudos Camilianos contará com a presença e a intervenção do Director da Casa de Camilo – Museu / Centro de Estudos Camilianos, Prof. Doutor Aníbal Pinto de Castro, bem como do organizador desta edição, Cândido Oliveira Martins (Universidade Católica Portuguesa).
Seguir-se-á a encenação de alguns quadros da jocosa peça camiliana, O Morgado de Fafe em Lisboa, pelo grupo de teatro Nova Comédia Bracarense.
Esta nova edição de O Morgado de Fafe em Lisboa é precedida por uma introdução crítica de Cândido Oliveira Martins. Nesse estudo, contextualiza-se a relevância e o significado da escrita teatral de Camilo e da sua vocação dramática. Salienta-se a variedade dos títulos publicados neste domínio e a sua temática dominante, com este enquadramento:
A gigantesca obra ficcional de Camilo Castelo Branco (1825-1890), que a si próprio se qualificava como “operário das letras”, tem injustamente obscurecido outros géneros da escrita deste incansável polígrafo, como é o caso da sua produção dramatúrgica. Autores há que são vítimas quer da sua própria grandeza, quer também da sinuosa e restritiva recepção crítica. [da Introdução crítica]
Ao mesmo tempo, historia-se e justifica-se a popularidade desta comédia de Camilo, através da análise de alguns dos seus processos em matéria de composição teatral e temática, linguística e estilística:
O Morgado de Fafe em Lisboa (1861) é uma admirável farsa camiliana, que se notabilizou, ao longo do tempo, pelo efeito cómico e corrosivo com que investe contra certos ideais, tipos humanos e ambientes característicos do Portugal ultra-romântico de meados do séc. XIX. A graça mordente da sua sátira reside nessa capacidade de anatomia cruel da sociedade burguesa da Regeneração. [da Introdução crítica]
Finalmente, analisa-se o significado estético desta farsa camiliana como invectiva contra certa sociedade e literatura ultra-românticas. Esse mundo enfatuado e piegas, cheio de convenções e etiquetas, dado a uma literatura sentimental e lacrimosa, é objecto de alegre desmistificação paródica e satírica.
Para isso, Camilo opta pela inesquecível figura cómica de um rústico morgado minhoto, de seu nome António dos Amarais Tinoco Albergaria e Valadares. Convidado para um salão lisboeta, ele fala com simplicidade e sem artificiosismos, fazendo assim estalar o falso verniz do “mundo patarata” e das frivolidades janotas da burguesia urbana da capital. A franca ruralidade do morgado choca, de modo frontal e cómico, com a pedanteria e a literatice da atmosfera ultra-romântica do tempo.
O estabelecimento do texto desta edição é feito a partir da 2ª edição de O Morgado de Fafe em Lisboa [1865], saída em vida do escritor, em cotejo com a 1ª edição [1861]. A presente edição é ainda enriquecida por abundantes notas explicativas da linguagem camiliana; e ainda por uma bibliografia crítica.
Inaugurando uma nova colecção de teatro da editora Opera Omnia, o grande objectivo é captar novos públicos para a leitura de autores clássicos como Camilo Castelo Branco. Dentro do espírito do Plano Nacional de Leitura, pretende-se seduzir variadas camadas de leitores, quer através da leitura do texto editado, quer através da representação da peça.
O responsável por esta edição de O Morgado de Fafe em Lisboa já anteriormente organizou outras edições de Camilo: Eusébio Macário / A Corja (Porto, Caixotim, 2003); e Novelas do Minho (Porto, Caixotim, 2006); também publicou uma obra didáctica intitulada Para uma Leitura de “Maria Moisés” de Camilo Castelo Branco (Lisboa, Presença, 1997).
Casa de Camilo

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