Por quem os sinos dobram, de Sam Wood
Por Mário Zambujal
Não faltaram manifestações de discórdia quando o romance “Por quem os sinos dobram” conduziu Ernest Hemingway ao Prémio Nobel de Literatura, no ano de 1954. Igualmente o filme de Sam Wood, baseado no livro, foi alvo de críticas negativas. Pontos de vista. Tanto o livro como o filme resistem e continuarão a resistir à erosão do tempo.
No trabalho de Sam Wood avultam, não só os diálogos “bebidos” no livro, mas toda uma série de virtudes cinematográficas, desde a excelência da fotografia à banda sonora, passando pelo exemplar desempenho dos actores. Não apenas do duo protagonista – uma Ingrid Bergman lindíssima e um Gary Cooper a provar capacidades acima do herói de “westerns” – mas também do naipe de actores ditos secundários. Karina Paxinou, actriz grega que se estreava no cinema, teve uma actuação empolgante – que lhe valeu um “Oscar” – no papel de Pilar, a cigana que arrebata a chefia do grupo ao marido, Pablo, para se associar à aventura do jornalista revolucionário americano. A figura de Pablo permitiu a Akkin Tamiroff outra interpretação inesquecível. Ele é o chefe deposto por medos e calculismos e vive na dualidade entre a sua fama de bravura e a tentação da segurança para o seu grupo cigano.
Sem seguir todos os passos do livro – o que seria utópico dadas as diferenças de “tempos” entre as linguagens escrita e fílmica – Sam Wood explora com talento a história de amor entre Maria (Ingrid Bergman) e aquele a a quem chamam “o inglês” (Gary Cooper) num clima de guerra que surge em segundo plano mas que está sempre presente nas cavernas e montanhas que são o palco dominante do filme.
Mário Zambujal