O Padrinho, de Francis Ford Coppola
Por Manuel Carvalho da Silva
Respondendo ao honroso convite que me foi formulado pelo Director da Casa Museu de Camilo para participar no ciclo de cinema “Um Livro, um Filme”, aí estarei em 31 de Outubro.
A minha escolha recaiu em “O Padrinho”, filme de Francis Ford Coopola, de 1972, adaptado do livro com o mesmo título de Mário Puzo.
A minha preferência, tendo em consideração as opções qualitativas dos convidados anteriores, julgo que é sobre um grande filme.
O livro e o filme – quem em 1973 ganhou 3 Óscares, entre os quais o de Melhor Filme – apresentam-nos uma grande identidade e elementos múltiplos de relação entre as duas artes. No meu entender, neste caso, contribuíram para isso vários factores que se entrecruzaram, designadamente: o facto de Mário Puzo ter trabalhado com Coopola o guião/roteiro do filme a partir da sua recente obra literária, aliás um best-seller; a actualidade com que se apresentava, nessa época, a análise do tema Máfia, quer nos Estados Unidos, quer em Itália; as extraordinárias interpretações de vários actores, em particular, de Marlon Brando – que recebeu em 1973 o Óscar de Melhor Actor Principal – e, também, de Al Pacino; as capacidades de Coopola como realizador, ele que vinha positivamente espevitado pelo prémio que tinha ganho em 1970, com Patton.
Acho que estamos perante um muito bom filme que é preciso ver e desfrutar (pelo enredo, pelas interpretações, pela realização em vários campos), na certeza de que somos transportados para a análise de questões sociais, culturais e políticas de grande interesse. A leitura do livro, antes (ou depois) completa-nos a visão de todos esses campos.
As diversas cenas de violência, algumas bem duras, não se apresentam de forma indutora de outras violências. Elas partem do choque (a brutalidade) para nos deixarem a reflectir. O crime organizado é um estado dentro do Estado. Vêm ao de cima problemas complexos, como as infiltrações, influências e corrupção nas instituições e organizações da sociedade no plano social, económico e político, e, ainda, a instrumentalização, quer dos sistemas de justiça, quer de expressões dominantes da cultura.
Que interrogações se nos colocam, sempre, na reflexão a que somos conduzidos perante a figura de um “criminoso/estadista”?
Tomando os conteúdos do livro e do filme, somos projectados, por exemplo, para interessantes exercícios de análise e renovado confronto/articulação entre o individual e o colectivo. E, além de tudo, a reflexão sobre os valores e o jogo valores/sentimentos em torno da verdade, da mentira, da lealdade, da honra, ou da tão importante instituição família.
Duas últimas notas, em particular, para todos aqueles que queiram estar na Casa de Camilo, em Seide, no dia 31 de Outubro, às 21:30 horas: (i) tenhamos também presente que em 72/73 estávamos em período de “crise”; (ii) Camilo incorporou, na sua imensa obra, uma forte dimensão da crítica social (com certeza controversa) incluindo olhares sobre o exercício do poder, como em “A Queda de um Anjo”.
Até dia 31.
Manuel Carvalho da Silva
“O Padrinho”, de Francis Ford Coppola
Outubro 26, 2008 por casadecamilo
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